Título: MORAIS: VETO A LIVRO É BARBÁRIE
Autor:
Fonte: O Globo, 12/05/2005, O País, p. 13

Para escritor, decisão judicial foi ato de `censura e violação da Constituição¿

PARIS. O escritor Fernando Morais chamou ontem de ¿barbárie, censura e violação da Constituição¿ a decisão do juiz Jeová Sardinha, da 7ª Vara Criminal de Goiânia, que ordenou o recolhimento de exemplares de seu recém-lançado livro ¿Na Toca dos Leões¿, depois de uma ação movida pelo deputado federal Ronaldo Caiado (PFL-GO). Um dos personagens do livro cita suposto projeto do deputado para esterilização em massa de mulheres nordestinas, como solução para a ¿superpopulação¿ de pobres na região.

Surpreso e indignado com a notícia, Morais resolveu enfrentar ontem à distância o juiz goiano, que o proibiu de dar declarações à imprensa sobre o livro. Um ato que o escritor considerou truculento. Ele convocou jornalistas brasileiros para uma entrevista num hotel no centro de Paris, onde está hospedado, dizendo que não fazia isso para desafiar a Justiça, mas sim para impedir que ¿uma barbárie destas¿ aconteça novamente:

¿ Fiquei estupefato, sobretudo com a decisão de me calar, que é algo jamais visto nem no auge da ditadura.

Morais disse que vai voltar ao Brasil no fim deste mês disposto a processar não apenas Caiado, como também o juiz por danos materiais e violação do artigo da Constituição que assegura o direito de expressão. Uma semana após o lançamento, em 1º de abril, o livro já estava em segundo lugar entre os mais vendidos e o escrito diz que terá prejuízo.

¿ Não tenho banco, boi ou indústria. Estou tendo prejuízo moral, e também material.

O escritor também disse que vai desembarcar no Brasil com dinheiro para pagar a multa de R$5 mil que o juiz decretou por cada declaração sua à imprensa.

¿ Pagarei a contragosto, mas certo de que estou fazendo algo em defesa de um princípio da liberdade de expressão ¿ disse.

Caiado teria sugerido esterilizar mulheres pobres

O livro, que começou a ser escrito em 2001, conta a história da agência de publicidade W/Brasil. Num determinado trecho, um dos sócios da agência, o publicitário Gabriel Zellmeister, reproduz a frase que ele e o parceiro, Washington Brasil, teriam ouvido da boca de Caiado, quando foram procurados pelo político, em 1989.

¿ Os dois sócios me contaram separadamente, em dias diferentes, e sem saber que eu tinha falado sobre isso com o outro, que Caiado chegou à agência dizendo que tinha a solução para acabar com ¿estratos sociais inferiores¿, que era adicionar produto químico esterilizante na água potável consumida pelas nordestinos para que diminuísse a população ¿ disse.