Título: Embates decisivos
Autor: Caio Blinder
Fonte: O Globo, 15/10/2004, O mundo, p. 35
George W. Bush e John Kerry terminaram o último de seus debates como o tinham começado ¿ com diferenças bem definidas em substância, semântica e estilo em quase todas as questões de peso para o público americano ¿ e entram na reta final em meio a a indicações de que os enfrentamentos tiveram importância, talvez mais do que outros do gênero nos últimos 25 anos.
Eles foram uma passagem difícil para Bush, que viu sua vantagem de setembro desmoronar conforme o candidato democrata se estabelecia como uma alternativa presidencial plausível. Com os eleitores medindo a auto-confiança, a autoridade e constância dos candidatos, Kerry passou um conjunto consistente e assertivo de desempenhos. Bush apareceu em três versões: impaciente ¿ agitado mesmo, por vezes ¿ no primeiro debate; zangado e agressivo no segundo; radiante e otimista no terceiro. Em apenas 13 dias os debates puseram a campanha de pé e levaram Kerry a um empate até nas pesquisas.
As quase três semanas que restam devem ser dominadas não por roteiros que os candidatos podem controlar, mas por forças e fatores além do poder de ambos. O principal que cada um pode controlar é sua própria mensagem: parece certo que Bush vai continuar acusando Kerry de ter um histórico de decisões fracas em segurança nacional e liberalismo em impostos e despesas, enquanto Kerry deve ficar martelando a maneira como Bush conduz a guerra e a economia americana.
Os debates têm sido a janela mais clara que o público teve para ver o quão diferentes Bush e Kerry são e o quão diferentes suas Presidências seriam. Nenhum dos dois cometeu gafes grandes e tampouco desfechou um nocaute no adversário. Mas Kerry repetidamente fustigou Bush pelos empregos perdidos, pelo crescente abismo entre ricos e pobres, pelo pagamento desigual às mulheres e por falta de assistência médica. Bush ignorou os dados específicos das reclamações de Kerry, e em vez disso citou seus próprios esforços para melhorar os padrões educacionais americanos.
¿Este é um daqueles anos clássicos em que os debates mudarão mesmo a direção da corrida¿, disse Alan Schroeder, professor da Universidade do Noroeste e autor de ¿Debates presidenciais: 40 anos de TV de alto risco¿. ¿Nem sempre é assim. Mas claramente algo naquele primeiro debate levou os eleitores a darem uma segunda olhada em John Kerry, e a darem uma segunda olhada em George Bush.¿
As últimas pesquisas mostram que a corrida está num empate virtual. Ambos os candidatos estão agora totalmente à mercê tanto dos eventos como um do outro. Cada candidato tem razão para estar esperançoso, e as pessoas, para estarem com dúvidas.