Título: PACOTE DO GOVERNO PARA O SETOR GERA DECEPÇÃO
Autor: Alessandro Soler e Rachel Bertol
Fonte: O Globo, 14/05/2005, Rio, p. 19

Livreiros criticam novas medidas de incentivo anunciadas pelo BNDES que beneficiam mais as editoras

Enquanto aproximadamente 27 mil estudantes e outros 15 mil visitantes circulavam alegremente pelos pavilhões da 12ª Bienal Internacional do Livro, um pequeno mas significativo grupo não tinha muito o que comemorar. O pacote de medidas do BNDES para dar novos incentivos ao setor do livro decepcionou ontem livreiros e distribuidores que participaram da concorrida solenidade na Bienal, num lotado Auditório Guimarães Rosa. Apesar de o BNDES ter convidado entidades do setor para divulgar ¿linhas especiais de crédito para editoras, livrarias e gráficas¿, somente as editoras brasileiras serão beneficiadas pela redução de limite mínimo de crédito de R$10 milhões para R$1 milhão, a exemplo do que aconteceu no ano passado para a área de cinema.

Para livrarias, a única novidade foi a ampliação do limite máximo para uso do Cartão BNDES, para financiamento de novas instalações, de R$50 mil para R$100 mil.

¿ Quer dizer que, para as livrarias, a novidade é somente a ampliação do limite do Cartão BNDES? ¿ perguntou, perplexo, o presidente da Associação Estadual de Livrarias do Rio, Marcus Gasparian, dono da tradicional livraria Argumento. ¿ Assim, poderá acontecer com o livro o que já vemos no cinema: muitos filmes são feitos, mas não há salas para exibição. O problema é que comerciante do livro no Brasil não é encarado como um grande fomentador de cultura. E isso não corresponde à realidade. Faltam livrarias no Brasil e é por isso que esta Bienal tem tantos visitantes.

BNDES promete estudar mais a questão

Constrangido com o anticlímax , o diretor da área industrial do BNDES, Armando Mariante, que participou da solenidade, reconheceu que esta é uma questão importante.

¿ Vamos levar estudos adiante para que o limite seja baixado também para livrarias ¿ afirmou Mariante.

A crítica de Gasparian foi reforçada por Luiz Fernando Emediato, dono da editora Geração Editorial e gestor conselheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), de onde vem boa parte dos recursos utilizados pelo BNDES em seus financiamentos. Emediato arrancou aplausos da platéia:

¿ O ProLivro é maravilhoso, pois significa dinheiro barato para as editoras. Mas onde vamos pôr tantos livros? As editoras correm o risco de não ter como pagar suas dívidas, pois não terão onde vender livros. Além disso, o cidadão tem pouca renda e não pode comprar livro.

O presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (Snel), Paulo Rocco, reiterou que as medidas anunciadas ¿precisam ser aprimoradas¿.

Críticas ao governo também sobraram em outro evento do segundo dia da Bienal. Luis Fernando Verissimo, durante homenagem ao centenário de nascimento do pai, Erico, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma decepção.

¿ Lula frustrou os que esperavam um desastre do seu governo e frustrou mais ainda os que tinham esperança de que alguma coisa fosse mudar. Ele é realmente uma decepção para o bem e para o mal. Nada muda ¿ lamentou Verissimo.