Título: MAIS JOVENS, MELHORES ALUNOS
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 15/05/2005, O País, p. 3

Professores e pais destacam importância de iniciar os estudos com menos idade

RIO, FORTALEZA e BRASÍLIA. Os quatro anos de idade que separam os irmãos cariocas Marcson e Davidson dos Santos Neves praticamente sumiram em sala de aula. Marcson, o mais velho, hoje com 14, só foi para a escola aos 7 e ainda está na sexta série do ensino fundamental, numa escola na Pavuna, no subúrbio. Davidson conseguiu vaga na pré-escola aos 4 anos e, aos 6, quando chegou ao ensino fundamental, sabia ler. Hoje, aos 10, está na quinta série.

¿ O menino que vai mais cedo para a escola aprende melhor. Às vezes, o pequeno ajuda o irmão. Ele leu mais rápido, escreveu mais rápido e consegue assimilar as coisas com mais facilidade ¿ diz a mãe, a diarista Andréa das Neves, de 32 anos.

Marcson e Davidson explicitam bem a realidade do ensino no Rio: o ciclo de nove anos foi implementado em 1999 e hoje atinge a totalidade da rede. Marcson chegou à idade escolar na época em que apenas crianças de 7 anos eram aceitas. Davidson é cria da nova fase, de nove anos. Um tempo quase perfeito, diria a aposentada Lacyr Pereira, de 63 anos, que compara a situação dos netos Marcelo, de 7 anos, e André Felipe, de 6, com a de seus filhos, de 32, 33 e 38 anos.

¿ Meus filhos foram tarde para a escola. Os netos estão levando vantagem. Melhor, só se tivesse escola a partir de 2 anos ¿ sonha ela

Em Fortaleza, Jonathan Alberto Sousa da Silva, de 6 anos, já sabe escrever o próprio nome. Aluno da primeira série do ensino fundamental num bairro de classe média-baixa em Fortaleza, ele diz que a escola é melhor do que sua casa porque tem brincadeiras e amigos. A diretora da escola, Fátima Corrêa Nicolau, afirma que o desempenho dos mais jovens é melhor:

¿ Muitas vezes, as crianças chegam com 7 anos sem saber nada e ficam tímidas diante de outros colegas mais adaptados e confiantes.

A estudante Ellen Cristine Santos Lisboa, tem 5 anos, mas lê e escreve melhor do que muito adulto. Aluna de uma das 53 escolas públicas do Distrito Federal em que o ensino fundamental leva agora nove anos, Ellen definitivamente não fará parte das estatísticas de alunos que concluem o primário sem entender o que lêem ¿ problema que afeta mais de metade dos estudantes brasileiros na quarta série.

Às vésperas de completar 6 anos, Ellen ainda não toca o chão quando está sentada na sala de aula da Escola Classe 24, em Ceilândia, cidade-satélite a cerca de 25 quilômetros de Brasília. Sobre a mesa, seu nome está escrito numa cartolina, a exemplo do que ocorre com os demais colegas.

Identificar o próprio nome é o começo. As cartolinas são usadas numa espécie de jogo, em que cada estudante deve encontrar a sua. Numa sala repleta de crianças de 5 e 6 anos, as brincadeiras fazem parte do aprendizado, que vai além da alfabetização e inclui uma introdução à matemática.

¿ Não podemos esquecer a parte lúdica, pois são crianças ¿ diz a diretora da escola, Ridamar Neves da Silva.

A professora Léia Alves de Souza já lecionou para turmas da tradicional primeira série e agora ensina alunos mais jovens.

¿ Um aluno que chega à primeira série sem nunca ter freqüentado a escola tem menos coordenação motora e raciocínio lógico ¿ diz Léia.

No Distrito Federal, a rede pública já tem vagas para todas as crianças de seis anos, informa a subsecretária de Educação Pública, Eliana Ferrari. A diferença é que, nas turmas de educação infantil, a ênfase estava nas brincadeiras. Agora, na nova pré-primeira série, chamada de primeira etapa do bloco inicial de alfabetização, haverá um foco maior no ensino, ainda que misturado a atividades lúdicas.

COLABOROU Demétrio Weber