Título: RESULTADO DO ENCONTRO DIVIDE ESPECIALISTAS
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 15/05/2005, O Páís, p. 13

A política externa do Brasil sai fortalecida¿, diz Celso Amorim

BRASÍLIA. Sucesso absoluto para alguns, um desastre para outros, os comentários sobre a Cúpula América do Sul-Países Árabes traduzem o caráter polêmico do encontro, realizado terça e quarta-feira passadas em Brasília. O certo é que a capacidade de o Brasil organizar e sediar um evento dessa natureza dá o tom do que vem a ser a política externa brasileira: ousada, independente, mas arriscada.

¿ A política externa brasileira sai fortalecida da cúpula ¿ garantiu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Fontes do governo acreditam que a projeção cada vez maior do presidente Luiz no cenário internacional já está incomodando líderes de outros países, e não apenas o presidente argentino, Néstor Kirchner, que abandonou o encontro um dia antes de sua conclusão, sem justificativa. A liderança de Lula foi destacada por chefes de Estado e de governo árabes e sul-americanos e, no final, restou a ressaca de um evento cheio de críticas abertas e veladas aos Estados Unidos, parceiro comercial do Brasil, e o mal-estar causado pelos ataques a Israel.

Para o cientista político David Flesher, da ONG Internacional Transparência, Consciência e Cidadania, houve um importante avanço na política externa brasileira. E um dos focos que devem ser ressaltados é a capacidade de organizar um evento dessa magnitude.

Os árabes, lembrou Flesher, conseguiram introduzir no documento final a defesa do Estado palestino, a condenação dos embargos econômicos à Síria pelos EUA, a condenação do terrorismo com o reconhecimento de que os povos podem resistir à invasão estrangeira e a criação de uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio.

¿Postura contra os EUA e Israel é perigosa¿

A Argentina se beneficiou com o parágrafo que contesta a posse das Ilhas Malvinas pelo Reino Unido no mapa da União Européia. O Uruguai emplacou o apoio de seu candidato à diretoria-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pérez del Castillo, que acabou eliminado na última sexta-feira. Já o Brasil reforçou a necessidade de se reformular o Conselho de Segurança das Nações Unidas, a redução da fome e da pobreza, a democratização dos organismos multilaterais de crédito, o multilateralismo, entre outros pontos.

¿ Foi um importante avanço na política externa brasileira. Os EUA reclamaram um pouco, Israel reclamou muito, mas foi um passo fundamental do presidente Lula ¿ disse o cientista político.

Não é o que pensa o analista político Eduardo Viola.

¿ Essa postura adotada na cúpula contra os EUA e Israel é perigosa. Não existe cacife econômico ou político para tal enfrentamento ¿ afirmou Viola. (Eliane Oliveira)