Título: O CASAL QUE FAZ DO SEXO UM GRANDE NEGÓCIO
Autor: Adriana Castelo Branco
Fonte: O Globo, 15/05/2005, Rio, p. 24

Donos da maior rede de sex shops da cidade, Karina e Ralf Furtado abrem filial mais sofisticada, só para mulheres

Nas festas, eles são os convidados mais aguardados por causa dos presentes que levam; nas horas vagas, atuam como consultores sentimentais; e, no trabalho, às vezes são obrigados a atender clientes no meio da madrugada. Não é exagero dizer que os empresários Ralf Furtado, de 34 anos, e sua mulher Karina, de 32, vivem literalmente de sexo. Além de dividirem a mesma cama ¿ são casados há dez anos ¿ os dois são sócios da sex shop A2, com lojas em Ipanema e Copacabana. Esta semana, inauguram outra loja, também em Ipanema, com 150 metros quadrados e um diferencial: a exclusividade para mulheres.

¿ Abrimos a terceira A2 por causa da demanda, já que muitas mulheres ainda têm vergonha de ir até uma sex shop freqüentada também por homens ¿ diz Furtado. ¿ Criamos a moda da sex shop moderna, que vende entretenimento. Aqui o cliente sabe que pode comprar tanto um brinquedo sexual quanto uma sunga.

Naturalmente, Furtado está proibido de entrar na nova A2, cujo investimento foi de R$250 mil. O valor ajuda a incrementar um mercado que, de acordo com a Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abemes), movimenta R$800 milhões por ano.

¿ Esse mercado cresce 15% ao ano. O público feminino responde por 80% das vendas ¿ estima o presidente da Abemes, Evaldo Shiroma.

Foi pensando nessa clientela cada dia mais curiosa e fiel que Furtado e Karina investiram todas as fichas na nova filial. Praticamente sozinha à frente do negócio, a empresária pesquisou bastante para oferecer lingeries, óleos importados e produtos inovadores como um vibrador com câmera digital ¿ a imagem é reproduzida na TV ¿, estimuladores clitorianos cuja intensidade aumenta de acordo com o volume da voz e calcinhas vibratórias com controle remoto sem fio.

Nova loja terá cursos de pompoarismo e sexo oral

As novidades não páram por aí. Na loja haverá uma sala onde serão ministrados cursos de pompoarismo (exercícios com bolinhas para fortalecer a musculatura vaginal) e sexo oral. Karina, aliás, já contratou uma personal sex trainer para ensinar a melhorar o desempenho sexual das freguesas.

¿ Quem tiver vergonha pode solicitar aulas particulares, com direito até a entrada independente na loja ¿ conta Karina. ¿ Cuidamos pessoalmente da loja, dos móveis ao piso. Participamos de tudo.

Sempre foi assim, desde que os dois se conheceram, no ¿Rock in Rio 2¿, em 1991. Karina estudava administração em Curitiba e, três meses depois, Furtado fazia as malas para morar no Sul. Foi para Guarapuava, a quatro horas da cidade da namorada, trabalhar em um jornal local. De lá para cá, a dupla fez muita coisa: vendeu peças de computador compradas no Paraguai, montou uma empresa de informática, tocou uma boate para 1.500 pessoas e chegou a produzir uma rave. Depois de perder todo o investimento por causa de um temporal, resolveu vir para o Rio.

¿ Éramos tão duros que vendemos nossa coleção de CDs para pagar o primeiro aluguel. Trabalhamos com informática mas vimos que o ideal era um negócio mais criativo. Em 1997, abrimos a Ponto G, a primeira sex shop de rua do Rio, filial de uma loja paulista. Dois anos depois, criamos a A2 ¿ conta Karina.

Feliz com a escolha profissional que fez há oito anos, o casal ¿ que tem dois filhos: Bruno, de 3 anos, e Henrique, de 2 ¿ não tem do que se queixar. Apesar de morarem em apartamento próprio, os dois garantem que não estão ricos pois reinvestem tudo o que ganham. A diversão, pelo menos, é garantida: eles são sempre os primeiros a experimentar os novos lançamentos do mercado de brinquedos eróticos.

¿ Damos nossos produtos aos amigos. Aliás, somos a sensação nas festas de aniversário. Pelo presente e pela curiosidade das pessoas ¿ comenta Karina.

Ser consultor sentimental é outra tarefa que a dupla passou a tirar de letra. Segundo eles, muitos clientes fazem confidências sobre seus problemas de relacionamento no meio da loja. Falar tranqüilamente sobre sexo garante a Furtado e Karina outra missão: a de participar de palestras e debates sobre o assunto, inclusive em universidades.

¿ Também tiramos dúvidas de parentes e vizinhos. Outro dia, um amigo me ligou querendo saber como desligar um vibrador ¿ diz Furtado. ¿ Já abri a loja às 3h para a secretária de um executivo e já fechei as portas no meio do expediente para receber celebridades.

¿Antes, sex shop era coisa proibida, promíscua¿

Segundo Furtado, muitos cariocas ainda não entendem o conceito de suas sex shops e acham que vão encontrar até shows de sexo explícito atrás das portas espelhadas. Não é o caso da aposentada Marlene Siqueira, de 55 anos. Freqüentadora antiga, ela não vê a hora de a nova loja ser inaugurada.

¿ Antes, sex shop era coisa proibida, promíscua, escondida. Ralf e Karina conseguiram mudar isso ¿ acredita.

A nova loja não assusta nem a concorrência. Para Margot Bertholo, dona da sex shop Muito Prazer, na Barra ¿ a única que segue a linha light da A2 ¿ quanto mais lojas, melhor para o mercado. Ela elogia os empresários, que confirma terem sido pioneiros no negócio.

¿ Eles abriram as portas para muita gente. Mas não atendemos ao mesmo público: eles trabalham mais com gays. Acho até que é por isso que estão abrindo uma filial só para mulheres ¿ diz ela.