Título: UM ESPAÇO PARA ENCONTRAR O PAÍS DE BALZAC
Autor: Daniela Birman
Fonte: O Globo, 15/05/2005, Rio, p. 25

Estande da França oferece vasta programação cultural e exibe mais de 1.500 obras, incluindo preciosidades

Oh! Là... là! A programação da 12ª Bienal Internacional do Livro está repleta de encontros com autores franceses hoje, que é o dia da França na festa do livro no Riocentro. Mas, além de conhecer alguns dos principais nomes da literatura francesa contemporânea em espaços como o Imaginário do Autor, os visitantes da Bienal terão, até o último dia da feira, um lugar específico para curtir a cultura do país de Balzac: o charmoso estande da França, instalado no Pavilhão Verde.

E mesmo quem torce o nariz para o país homenageado desta edição da Bienal pode encontrar abrigo no espaço, de 285 metros quadrados, elaborado pelo Consulado Geral da França do Rio. Isso porque a programação, a cargo do escritor, cantor e compositor Frédéric Pagès, foi inspirada na idéia do encontro.

¿ A programação cultural francesa no estrangeiro às vezes é um pouco pretensiosa, um pouco arrogante. Acho muito mais interessante elaborar uma programação sobre a temática do encontro. Primeiramente do encontro entre a França e o Brasil e do encontro em geral ¿ explica Pagès, que há muitos anos trabalha nesse intercâmbio cultural entre os dois países.

E um dos encontros do visitante do estande será provavelmente com a vida e a obra do filósofo Jean-Paul Sartre, cujo centenário de nascimento está sendo festejado este ano. Assim, os curiosos que forem até o espaço francês poderão ver uma exposição sobre o autor de ¿O ser e o nada¿. Além disso, Sartre será homenageado na festa do livro, num evento hoje às 18h, e dá nome ao café pilotado pelo bretão Olivier Cozan no espaço. O chef ¿franco-carioca¿ oferece fornadas de croissant, pain au chocolat e outras delícias da pâtisserie francesa, além de degustação de vinhos. Ele participa, no dia 19, da série ¿O meu caso com o Brasil¿. Entre as outras atrações do estande estão ¿Encontros e confrontos¿, ¿Sabores e degustações¿ e ¿O meu caso com a França¿.

E isso tudo, claro, sem falar no encontro dos leitores com mais de 1.500 obras de língua francesa disponíveis no espaço, incluindo preciosidades de um sebo. Em 1998, quando o Brasil foi homenageado no Salão do Livro de Paris, Pagès fez o trabalho inverso ao de agora: foi o responsável pela programação cultural relativa ao Brasil por lá. E se depender do resultado desse salão, o estande da França será realmente imperdível.

¿ Foi o melhor Salão do Livro que nós já tivemos na França, sem dúvida. Nenhum país convidado vendeu tantos livros como o Brasil.

Até as 17h de ontem, a Bienal recebeu 35 mil pessoas e a previsão para o fim de semana é de que cem mil pessoas visitem os estandes distribuídos em três pavilhões. Às 14h, o poeta maranhense Ferreira Gullar participou do Imaginário do Autor com a jovem poeta Micheliny Verunschk, em sessão sobre a igualdade de direitos. Gullar arrancou aplausos da platéia ao criticar a política brasileira.

¿ Hoje se vê no Brasil uma sociedade refém dos políticos que dividem entre si o dinheiro da nação. A cidadania tem que se rebelar, tem que se organizar como puder ou ir para a rua.

Micheliny, ao ser perguntada sobre a ascensão dos direitos da mulher, disse que ainda se sente explorada, esfoliada e roubada em muitos dos seus direitos. Ela também criticou o rótulo ¿poesia feminina¿:

¿ É incrível que ainda falemos em gênero na literatura. Não importa se a obra foi escrita por um homem ou uma mulher. Ou se foi escrita por um índio ou um negro. O que importa é o valor daquilo que foi escrito, se é bom ou não.

No encontro ¿20 minutos de prosa¿, realizado ontem à tarde no estande O GLOBO/Estácio de Sá, o antropólogo Roberto DaMatta conversou com os visitantes sobre seu último livro, ¿Tocquevilleanas ¿ Notícias da América¿, no qual reuniu textos que publicou na imprensa nos anos que morou nos Estados Unidos. Na conversa, DaMatta contou um pouco sobre os ¿estranhamentos¿ que enfrenta no dia-a-dia da sua profissão, seja como antropólogo ou como jornalista.

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