Título: CHINA E ÍNDIA SÃO AMEAÇA AO BRASIL
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 12/05/2005, Economia, p. 28

Para Reis Velloso, competitividade brasileira corre o risco de ser esmagada

O Brasil pode ser pressionado por um "quebra-nozes competitivo" caso não responda à altura ao desafio que China e Índia impõem no cenário econômico global. Essa é avaliação do ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, que apresenta hoje, no último dia do Fórum Nacional, o estudo "O Brasil e a economia do conhecimento". Para Reis Velloso, o Brasil corre o risco de ser esmagado por dois modelos competitivos globais: de um lado, a alta tecnologia dos países ricos; de outro, a mão-de-obra barata de China e Índia. Com o agravante de que essas duas potências emergentes estão, cada vez mais, investindo em tecnologia.

Para não ser atropelado pelas locomotivas de crescimento China e Índia, o Brasil precisaria urgentemente de um programa de transição para a economia do conhecimento. Reis Velloso lembra que tanto China como Índia já têm iniciativas deste tipo. O programa chinês foi iniciado em novembro de 2001 e o da Índia, no fim do ano passado.

No caso do Brasil, sugere Reis Velloso, o incentivo às indústrias intensivas em tecnologia deve valorizar os potenciais do país. Por exemplo, na biotecnologia, é preciso aproveitar a enorme biodiversidade brasileira. Na indústria cultural e de entretenimento, deve-se buscar a força da cultura popular.

No estudo, Reis Velloso destaca que o Brasil vive paradoxos que o impedem de transformar talentos em vantagens no comércio mundial. O país tem cientistas e pesquisadores reconhecidos no exterior e uma base industrial sólida, porém não é competitivo em inovações tecnológicas. Do mesmo modo, tem criatividade artística, mas desempenho ainda modesto na indústria cultural e de entretenimento.

Alta tecnologia tem o maior avanço nas exportações

Na opinião de Reis Velloso, falta uma maior articulação entre academia, empresas e governo. Ele destaca que a inovação tecnológica dita o ritmo do comércio mundial. E cita números da Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento): entre 1985 e 2000, as exportações mundiais cresceram 8,2%, sendo que os manufaturados de alta tecnologia tiveram expansão bem maior, de 13,2%.

Em seu estudo, o ex-ministro defende ações para incentivar o uso de conhecimento e tecnologia em diferentes segmentos da economia. E lembra que mesmo os produtos agrícolas ou cuja produção é intensiva em recursos naturais podem usar um elevado grau de tecnologia. Reis Velloso dá alguns exemplos: grãos de café sem cafeína, que estão sendo desenvolvidos no Brasil; e o uso de foguetes para desviar nuvens e evitar chuvas na época da colheita de uva, no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. (L.R.)