Título: QUATRO HOMENS-BOMBA MATAM 71 IRAQUIANOS
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Fonte: O Globo, 12/05/2005, O Mundo, p. 34

Onda de violência para desestabilizar o novo governo já fez cerca de 400 mortos e há dois estrangeiros reféns

BAGDÁ. Numa demonstração de que o Iraque se tornou o maior reduto de terroristas suicidas no mundo, quatro homens-bombas explodiram ontem em partes diversas do país, matando pelo menos 71 iraquianos. O banho de sangue deu continuidade a uma onda de violência iniciada depois da formação do novo governo iraquiano, em 28 de abril, com o claro objetivo de desestabilizá-lo. Em duas semanas, cerca de 400 iraquianos morreram e dois estrangeiros seqüestrados estão desaparecidos: um australiano e um japonês.

O atentado mais violento de ontem aconteceu em Tikrit, terra de Saddam Hussein, no norte do Iraque. A cidade é habitada por sunitas, que são minoria no país, eram protegidos pelo ditador e agora se sentem sem representação no governo dominado por líderes da maioria xiita. O ataque foi direcionado a xiitas que vinham do sul em busca de trabalho. Um homem-bomba explodiu no meio de uma multidão deles, matando 33 e ferindo 80. O grupo militante Exército de Ansal al-Sunna assumiu a autoria da carnificina.

- O que vi foi uma tragédia. Algumas pessoas tiveram suas cabeças arrancadas pela explosão, outras foram carbonizadas, outras cortadas em pedaços - disse o migrante Ibrahim Mohammed, vindo de Kut.

Candidatos a policiais são alvo permanente do terror

Autoridades americanas e iraquianas associam a violência à entrada de terroristas estrangeiros no país, mas admitem que os rebeldes são, na maioria, sunitas e que os ataques têm tido como alvo xiitas. Por isso, acusam os insurgentes de tentarem provocar uma guerra civil no país.

Em Hawija, perto de Kirkuk, cidade no norte que concentra atividades petrolíferas, um homem-bomba explodiu num centro de recrutamento do Exército, matando 32 pessoas e ferindo 34. Iraquianos que buscam se empregar como policiais têm são alvo permanente do terror. Pelo menos 250 deles morreram nas últimas duas semanas.

Em Dora, subúrbio de Bagdá, um terceiro terrorista suicida detonou um carro-bomba perto de um posto policial, matando três civis. Segundo a polícia, ele tentava chegar ao posto mas o carro explodiu antes que conseguisse fazê-lo. O quarto atentado do dia teve como alvo uma patrulha da polícia em Mansour, distrito de Bagdá. Morreram dois policiais e um civil.

Numa outra frente de sua campanha contra a ocupação americana, rebeldes mantêm reféns um engenheiro australiano e um segurança japonês, o primeiro seqüestrado em Bagdá no final de abril e o outro domingo passado, no oeste do Iraque. Os seqüestradores ameaçam matá-los se Austrália e Japão não retirarem suas tropas do Iraque, mas os dois países se negam a fazê-lo. Anteontem, insurgentes seqüestraram no oeste Raja Nawaf, governador da província de Anbar, que desde domingo é palco de uma grande ofensiva americana contra os rebeldes.