Título: O TANGO DA BALANÇA
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 15/05/2005, Economia, p. 34
Relações no ritmo do comércio
BRASÍLIA. À exceção do futebol, a história das relações entre Brasil e Argentina sempre teve como termômetro a balança comercial. Tanto é assim que a saída do presidente Néstor Kirchner um dia antes de terminar a Cúpula América do Sul-Países Árabes, na última segunda-feira, foi atribuída por fontes do governo brasileiro à resposta negativa das autoridades econômicas à proposta de salvaguardas automáticas apresentada por Kirchner no ano passado.
A partir da criação do Mercosul, no início da década de 90, o comércio bilateral aumentou e, com ele, os superávits favoráveis aos argentinos, que superaram a cifra de US$1 bilhão. Em 1999, com a desvalorização do real frente ao dólar, a luz amarela acendeu e os empresários argentinos, temendo a queda de suas vendas e uma invasão de produtos brasileiros, que ficaram mais competitivos, pediram proteção urgente ao governo.
Em 2002, no auge da crise argentina, o governo brasileiro, a pedido do ex-ministro da Economia argentino Domingo Cavallo, abriu exceções que nunca mais foram eliminadas, na Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, permitindo, por exemplo, que a tarifa de bens de capital caísse a zero. Tudo isso para que as indústrias argentinas ganhassem fôlego. Em 2004, no entanto, a balança bilateral virou, com um resultado extremamente favorável ao Brasil: US$1,803 bilhão. Como era de se esperar, a Argentina aplicou cotas contra eletrodomésticos brasileiros e voltou a insistir em outras salvaguardas. Mas o Brasil afirma que, com a valorização do real, a tendência é os superávits diminuírem.