Título: AS GAROTAS DA FORÇA NACIONAL
Autor: Ana Claudia Costa
Fonte: O Globo, 16/05/2005, Rio, p. 9

Catorze mulheres de 11 estados fazem treinamento especial com o Bope no Rio

Pistolas e fuzis nas mãos, fardamento pesado, mas sem perder a ternura e a feminilidade jamais. Esse é o lema das 14 mulheres da Força Nacional de Segurança que estão há uma semana no Rio para treinamento com o Batalhão de Operações Especiais (Bope). Oriundas de 11 estados diferentes, as ¿meninas superpoderosas¿ deixaram temporariamente marido, filhos e outros parentes para fazer parte de um grupo seleto, que poderá ser acionado a qualquer momento para missões em todo o país.

A rotina das policiais ¿ que em seus estados fazem parte de batalhões especiais ¿ começa às 6h e só termina por volta das 22h. Orgulhosas, elas contam que pelo menos dois homens convocados para o treinamento no Rio já desistiram, mas o grupo feminino vem agüentando os exercícios, muitos realizados em favelas.

Tanto profissionalismo, no entanto, não impede que elas lancem mão de batons, sombras e rímeis durante os treinos.

¿ Não é porque estou treinando que vou me descuidar. Quando sobra tempo, retoco a maquiagem. Mas no trabalho sou severa com os criminosos ¿ diz a mato-grossense Kammyla Pereira Rodrigues, de 21 anos, que sempre leva batom e rímel no bolso.

A determinação e força dessas 14 mulheres só é quebrada quando o assunto é a distância de casa. Mãe de quatro filhos com 15, 12 , 9 e 8 anos, a capixaba Rosane Rubin Garcia, de 35, diz que a saudade é o maior sacrifício de aderir à Força Nacional:

¿ Quando fui convocada, disse na hora que estava pronta para servir. Mas meus filhos sentem muito. Quando ligo para casa, eles perguntam quando vou voltar.

A saudade é administrada da melhor forma possível pela cearense Ana Leticia de Oliveira. Com três filhos, ela não estará presente no aniversário de 1 ano do caçula:

¿ Como mãe, tenho mais preocupações do que saudade. O que não pode acontecer é o meu filho chamar a empregada de mãe.

Sobre as belezas da cidade, elas respondem em coro:

¿ Até agora, só conhecemos as favelas do Pereirão e Tavares Bastos, o Cefap (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, onde ficam concentradas) e o supermercado em frente.

Segundo o comandante da Força Nacional, coronel Aurélio Ferreira, em cada tropa de 200 componentes que vier fazer o treinamento, haverá pelo menos 15 mulheres. Ele explica que, antes de chegarem ao Rio, as moças passam por uma rígida seleção de 15 dias em Brasília. Ainda de acordo com o coronel, não há qualquer diferença no treinamento para as mulheres.

¿ A nossa intenção é pôr em cada patrulha pelo menos uma mulher ¿ concluiu.