Título: PRIMEIRO FIM DE SEMANA DO EVENTO LEVA 106 MIL PESSOAS AO RIOCENTRO
Autor: Alessandro S., Daniela B. e Rachel Bertol
Fonte: O Globo, 16/05/2005, Rio, p. 14

Número é recorde, segundo organização da feira, que foi criticada por escritores

O sol e o calor do fim de semana no Rio não afastaram o carioca da Bienal Internacional do Livro, no Riocentro. Segundo a organização do evento, a feira atraiu 106 mil pessoas nos dois dias, superando em 6% a expectativa e batendo o recorde de visitação registrado num primeiro fim de semana. Famílias inteiras passearam pelos três pavilhões num clima de shopping center em véspera de Natal. Apesar disso, algumas estrelas internacionais como o best-seller francês Marc Levy e o australiano DBC Pierre não conseguiram lotar, no sábado, os espaços de seus encontros com o público. Alguns eventos foram mais concorridos: a homenagem ao centenário de nascimento de Jean-Paul Sartre, ontem à tarde, no Dia da França, levou 300 pessoas ao Auditório Carlos Drummond de Andrade, que tem 400 lugares.

No sábado, a Bienal sofreu duras críticas da escritora Lygia Bojunga, que participou de um Fórum de Debates ¿ com a lotação quase esgotada ¿ sobre literatura infantil:

¿ O Riocentro é inadequado. É longe, caro, um recanto privilegiado que não aproxima o livro do público, só elitiza ¿ disse Lygia, que teve suas palavras endossadas pelos colegas de mesa Ziraldo e Ruth Rocha.

Multidão para ouvir Verissimo e Chico Caruso

Para Rosa Maria Barboza de Araujo, responsável pela programação cultural da feira, o ideal seria que o evento acontecesse num centro de convenções no Centro do Rio. Como isso não é possível, ela acredita que o Riocentro, em Jacarepaguá, contribua para popularizar a festa. A aparente escassez de público em parte dos eventos, segundo Rosa, se deve ao grande tamanho dos auditórios.

¿ Vem muita gente da Zona Oeste, da Zona Norte, de Niterói. Estamos com uma Bienal bastante popular ¿ afirmou. ¿ Quanto mais diversificada for a oferta, mais público atrairemos.

Alheios a essa discussão, Reinaldo Santos e a mulher Regina Antunes, moradores do Méier, foram passar a tarde na Bienal com os três filhos. Eles compraram livros de Ziraldo, enfrentaram a enorme fila de autógrafos do autor e driblaram a multidão com bom humor.

¿ Estamos adorando. Toda edição nós vamos à Bienal. Mas procuramos estimular o hábito de leitura nos nossos filhos o ano todo ¿ disse Regina.

A grande estrela de domingo foi o escritor Luis Fernando Verissimo. Às 14h ele participou de um debate sobre clássicos da literatura francesa, atraindo muitos jovens. Logo depois formou-se uma longa fila no estande da Objetiva, onde o autor autografou seus livros. À noite ele participou, com o cartunista Chico Caruso, do encontro 20 Minutos de Prosa, no Espaço O GLOBO/Universidade Estácio de Sá.

O bate-papo atraiu dezenas de pessoas que ouviram a dupla fazer graça e comentar a reação dos políticos às suas sátiras. Chico cantou sua mais nova criação, uma música sobre o presidente do Congresso, Severino Cavalcanti, e foi ovacionado. Verissimo lembrou a história da criação do personagem Velhinha de Taubaté, o último ser vivente a confiar no governo.

¿ A Velhinha está mais viva do que nunca! Ela confia muito no Palocci (o ministro da Economia, Antonio Palocci). No Lula? Não sei... Quem manda é mesmo o Palocci, é dele que ela gosta ¿ brincou, arrancando risos do público.