Título: PASCAL LAMY AGORA É O ÚNICO CANDIDATO À OMC
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 14/05/2005, Economia, p. 33

Uruguaio Del Castillo retira candidatura. Brasil acredita que francês vai fortalecer sistema multilateral de comércio

GENEBRA, BRASÍLIA e WASHINGTON. O ex-comissário comercial da União Européia Pascal Lamy deve tornar-se o próximo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). O outro concorrente à vaga, o uruguaio Carlos Pérez del Castillo, decidiu retirar sua candidatura, depois que o painel da OMC decidiu recomendar a escolha de Lamy no próximo dia 26. A diplomata queniana Amina Mohamed, que presidiu o painel, disse que Lamy tem mais apoio que Del Castillo.

Assim que soube da retirada da candidatura de Del Castillo, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou para Lamy para cumprimentá-lo. Na conversa, Amorim destacou o equilíbrio e a lealdade de Lamy, mesmo quando este defendeu, como comissário europeu, posições divergentes das brasileiras. O chanceler também disse estar confiante quanto ao fortalecimento do sistema multilateral de comércio e colocou o governo brasileiro à disposição para trabalhar com o vencedor da disputa, para "tornar a OMC mais democrática, transparente e receptiva às reivindicações dos países em desenvolvimento", segundo nota divulgada ontem.

Para Corrêa, Lamy vai avançar na Rodada de Doha

O representante de Comércio dos Estados Unidos, Rob Portman, também elogiou o francês. Em nota, Portman disse que Lamy "estará à altura do desafio de servir como líder neutro e defensor de metas ambiciosas na Rodada de Doha".

Em Genebra, o representante do Brasil na OMC e candidato derrotado no primeiro turno da eleição, Luiz Felipe Seixas Corrêa, cumprimentou os integrantes do Conselho Geral da OMC, responsáveis pelo processo eleitoral. E destacou que tem esperanças de que Lamy obtenha o máximo de consenso durante a Rodada de Doha, iniciada em 2001 e com término previsto para 2006.

- Felizmente, o processo eleitoral resultou num consenso. Tenho esperanças de que o próximo diretor-geral seja capaz de levar o consenso adiante, na Rodada de Doha - disse Corrêa, por telefone, ao GLOBO.

Embora o Brasil tenha apoiado o uruguaio Carlos Pérez del Castillo, este nunca foi o preferido do governo brasileiro. O Itamaraty, aliás, só lançou a candidatura de Corrêa, no fim do ano passado, para atrapalhar Del Castillo, persona non grata no Ministério das Relações Exteriores por ter defendido os interesses dos países ricos nas negociações agrícolas quando presidia o Conselho Geral da OMC.

Em nome da unidade sul-americana e a pedido do Uruguai, o Brasil até aprovou, na Cúpula América do Sul-Países Árabes, uma moção de apoio a Del Castillo. A justificativa para era que as duas regiões haviam escolhido alguém de uma nação em desenvolvimento, que as representasse. Mas Lamy sempre foi o favorito, tendo eliminado Corrêa, o mauritano Jaya Khrishna Cuttaree e, agora, Del Castillo, que retirou sua candidatura ao perceber que perderia a disputa.

Apoio de ex-colônias a francês preocupa Brasil

As interpretações sobre o que significará a vitória de Lamy na OMC são variadas. O consultor internacional Adimar Schievelbein acredita que foi o melhor resultado:

- Lamy é experiente e lutou até o fim de seu mandato para que fosse fechado um acordo comercial entre o Mercosul e a União Européia.

O diretor de comércio exterior da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), Donizete Beraldo, lamentou a vitória de Lamy, afirmando que Del Castillo teria mais sensibilidade em relação às questões agrícolas. Mas disse que ele não terá muita influência nas discussões:

- No máximo, ele terá de estimular as negociações e a promoção de consenso.

Uma das preocupações do governo brasileiro é com o fato de Lamy ter tido o apoio não só de Europa e EUA, mas das ex-colônias européias, as chamadas ACP (Ásia, Caribe e Pacífico). Estas não admitem perder as preferências no mercado europeu, que os países em desenvolvimento querem eliminar.