Título: CÉLULAS-TRONCO RECONSTITUEM NERVOS
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 14/05/2005, Ciência e vida, p. 38
Especialistas esperam que pacientes recuperem movimento das mãos
SÃO PAULO. A primeira cirurgia experimental com células-tronco maduras para regeneração de nervo periférico das mãos e do pulso no estado de São Paulo deve fazer com que os três pacientes que anteontem passaram por intervenções do gênero recuperem até 90% dos movimentos das áreas lesionadas em acidentes.
Em procedimentos convencionais, o novo nervo periférico cresce até um milímetro por dia, enquanto que com a nova técnica, segundo estudos feitos em laboratórios, pode crescer até três milímetros.
A professora Maria Aparecida Benini, a estudante Tatiana Cristina Martins e o motorista Edinei Viruel Sarbo receberam, juntos, mais de 1,5 bilhão de células-tronco, além de neuro-tubos - uma estrutura de silicone cilíndrica e oca conectada entre as extremidades dos nervos lesionados, por onde foram injetadas as células-tronco que vão auxiliar na reconstrução dos nervos periféricos.
A técnica de utilização de células-tronco é empregada com o objetivo de melhorar a qualidade da recuperação dos movimentos e da sensibilidade. Com a técnica convencional, de enxerto, existe também a possibilidade de recuperação de até 90% da sensibilidade e da força motora, mas os resultados são mais demorados. Os médicos esperam que em 45 dias os pacientes tenham recuperado 90% dos movimentos, o que levaria pelo menos seis meses pelo método tradicional.
Segundo o médico Salomão Chade Zatiti, que compõe a equipe do Hospital Especializado de Ribeirão Preto, onde foram feitas as intervenções, a recuperação depende do local e do tamanho da lesão.
- O tempo de recuperação depende bastante da área lesionada e do espaço que o nervo periférico terá para percorrer até alcançar o órgão alvo - disse Zatiti.
É a terceira vez que um procedimento cirúrgico desse tipo é feito no país: a primeira foi em Porto Alegre e, a segunda, no Recife, no último dia 21. Os pacientes escolhidos tiveram lesões graves nos nervos das mãos e dos pulsos nos últimos 12 meses.
Anteontem pela manhã, eles foram submetidos a um processo de punção para a retirada das células-tronco adultas da medula óssea. À tarde, passaram por cirurgias nas áreas lesionadas, em que os médicos aplicaram, por meio do tubo de silicone, um concentrado de células-tronco. No local, as células devem se multiplicar reconstituindo, assim, os tecidos do nervo.
Procedimento é realizado por três equipes médicas
A primeira a passar pela cirurgia foi a professora Maria Aparecida, de 45 anos, que havia sofrido um acidente de carro e quase teve a mão amputada. Após uma cirurgia de quatro horas, ela teve implantados cinco neuro-tubos Em seguida, a estudante Tatiana Martins, de 16 anos, passou por uma intervenção de uma hora. Tivera nervos do pulso direito seccionados por vidro num acidente caseiro. O motorista Edinei Sarbo, de 30 anos, acidentou-se numa explosão de fogos de artifício há um ano.
Segundo Zatiti, a cirurgia com células-tronco para regeneração de nervos periféricos é indicada para pacientes que estão dentro de um prazo médio de cinco anos entre o momento da lesão e a intervenção cirúrgica.
O processo cirúrgico é realizado por três equipes: uma de hematologistas (que colhem as células), outra de biólogos (para separação celular) e uma terceira de cirurgiões (ortopedistas). Na primeira fase, as células são retiradas dos pacientes por meio da punção e, em seguida, o sangue passa por um processo laboratorial em que as células-tronco são separadas dos demais compostos do sangue.