Título: Divulgadas fotos inéditas de Herzog no DOI-Codi de SP
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Fonte: O Globo, 18/10/2004, O País, p. 9

Um dos crimes mais discutidos da ditadura militar ganhou novas provas ontem: foram divulgadas pelo jornal ¿Correio Braziliense¿ duas foto inéditas do jornalista Vladimir Herzog no DOI-Codi, em São Paulo, em 1975. Na única imagem conhecida até agora, Herzog aparece já morto, por enforcamento, o que alimentava a versão oficial de suicídio. Nas fotos publicadas ontem, Vlado, como era conhecido pelos familiares e amigos, aparece sentado sobre o estrado de uma cama, nu, com as mãos no rosto. As fotografias foram entregues pelo ex-cabo do Exército José Alves Firmino à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Clarice Herzog: ¿É horrível vê-lo sofrendo tanto¿

Clarice Herzog, viúva do jornalista, o reconheceu nas fotos, que nunca havia visto antes. As imagens mostram Herzog acuado, de cabeça baixa, incomodado com a presença do fotógrafo.

¿É ele mesmo. É o Vlado. Eu não tinha visto uma foto dele vivo na prisão. É horrível vê-lo assim, sofrendo tanto constrangimento¿, afirmou Clarice ao ¿Correio Braziliense¿.

Vladimir Herzog compareceu à sede do DOI-Codi, órgão vinculado ao 2 Comando do Exército, no dia 24 d outubro de 1975, para prestar esclarecimentos sobre suas atividades políticas. Ele era diretor de Jornalismo da TV Cultura, em São Paulo, e filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). No dia seguinte, seu corpo foi apresentado à imprensa com a versão de que se suicidara. No corpo havia sinais de tortura e a altura da grade à qual o cinto que o enforcara estava preso era bem mais baixa do que a sua.

Jornalistas amigos de Herzog, advogados e ex-militantes políticos da época da ditadura também viram a foto e reconheceram o jornalista.

O cabo José Alves Firmino era um araponga do Exército, que, mesmo depois da ditadura, se infiltrava para investigar a atuação de partidos de esquerda. Ele contraiu hanseníase em 1996 e foi transferido de Brasília para Goiânia. Sentindo-se desprestigiado pelo Exército, ele conseguiu documentos nos arquivos do Comando Militar do Planalto e os encaminhou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

O ¿Correio Braziliense¿ divulgou ainda um relatório em que o Exército admite que até o dia 30 de setembro de 1975 47 militantes presos pelo Doi-Codi haviam morrido.

Em nota oficial, o Exército afirma que nas décadas de 60 e 70 o país ¿vivia um movimento subversivo e que pretendia derrubar o governo militar. O o Exército, obedecendo a um clamor popular, uniu-se a outros setores para formar uma força de pacificação¿.

O Comando do Exército continua afirmando que não há, nos seus arquivos, documentos que comprovem as mortes ocorridas no período da ditadura.

A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça reconheceu que Vladimir Herzog morreu em ação do Exército e nas dependências militares. A família recebeu uma indenização.