Título: BRASILEIRA ESTÁ ENTRE AS 10 MAIS DISCRIMINADAS
Autor: Claudia dos Santos
Fonte: O Globo, 17/05/2005, Economia, p. 21

País ficou em 51º no ranking do Fórum Econômico, apesar da legislação trabalhista. Suécia é o mais igualitário

RIO e BRASÍLIA. A igualdade entre os sexos está longe de ser realidade. Esta é a conclusão do relatório "Fortalecimento das Mulheres: Medindo a Desigualdade entre os Sexos", divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial, com sede em Davos, na Suíça. No estudo, o primeiro do gênero feito pelo Fórum, os países nórdicos foram os mais bem-sucedidos em reduzir o abismo entre homens e mulheres, com a Suécia em 1º lugar. O Brasil ficou em 51º no ranking de 58 países.

O estudo usou estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial (Bird) relativas aos 30 membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a 28 países emergentes. Também foi usada a Pesquisa de Opinião de Executivos, do próprio Fórum.

O melhor desempenho do Brasil foi oportunidade econômica, na 21ª posição, graças à legislação trabalhista, seguido por realização educacional (27ª). Em participação econômica o país ficou em 46º, em saúde e bem-estar, em 53º, e a pior colocação foi representação política 57º, à frente apenas da Jordânia.

Para deputada, participação na Câmara é vergonhosa

Segundo o economista-chefe do Fórum, Augusto Lopez-Claros, isso se deve ao fato de o Brasil nunca ter tido uma mulher na Presidência. O estudo usou dados da ONU, que se baseiam no Censo de 2000.

- O Brasil foi injustamente punido - afirma Lopez-Claros, referindo-se à defasagem, já que os dados têm quase cinco anos. - O país deve pedir à ONU que atualize seus dados.

Apesar disso, desde então, a situação mudou pouco. No atual governo, a participação feminina é pequena: apenas três de 33 ministros.

Para a secretária-executiva da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Maria Laura Pinheiro, esse estudo deve ser divulgado para dar visibilidade ao problema da mulher no país. E ressalta que o país já avançou em saúde e educação. Já a deputada Maninha (PT-DF) considera vergonhosa a participação das mulheres no poder político:

- Só 8,7% da Câmara são ocupados por mulheres. Na Argentina são 30%.

Lopez-Claros lembra que a legislação trabalhista brasileira é boa: pagamento integral do salário nos quatro meses da licença-maternidade. Mas reconhece que há dificuldades em sua implementação. Os executivos ouvidos pelo Fórum afirmaram que os custos com a licença influem na hora de contratar uma funcionária.

A economista Maria Sílvia Bastos Marques admite a existência desse problema. Ex-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), ela lembra que, do ponto de vista da empresa, a ausência de uma funcionária por quatro meses representa um custo. Ela mesma escolheu ficar apenas um mês de licença-maternidade, apesar das críticas na época:

- Ficar um mês em casa foi muito difícil. Fiquei felicíssima ao voltar - conta, reconhecendo que seu caso é excepcional, pois não teve problemas pelo fato de ser mãe.

Mas não foi essa a sorte de Karina Quintas: foi demitida mês passado do call center da Ibi, financeira da C&A, que encerrou o serviço no Rio. Ela estava no quarto mês de gravidez. Recebeu férias e décimo terceiro proporcionais, mas foi avisada pelo Sindicato dos Bancários do Rio de que a empresa teria de pagar também o período restante da gravidez e o tempo da licença. Agora Karina vai esperar o bebê nascer para procurar trabalho:

- Eu sei que mulher grávida não arruma emprego.

Segundo Lopez-Claros, o objetivo do estudo é fornecer dados para que governos e ONGs trabalhem para reduzir a desigualdade entre os sexos. Ele lembra que a maior participação econômica da mulher eleva os indicadores sociais e aumenta a competitividade dos países. E dá um conselho: educar as meninas. Para Maria Sílvia, é essencial oferecer igualdade de oportunidades aos dois sexos.

- A cultura da diferença é tão grande que as mulheres repetem esse padrão ao educar os filhos.

COLABORARAM Valderez Caetano e Luciana Rodrigues

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