Título: UZBEQUISTÃO SOB PRESSÃO MUNDIAL APÓS MATANÇA
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Fonte: O Globo, 17/05/2005, O Mundo, p. 25
EUA e Grã-Bretanha pedem acesso livre a cidade onde tropas teriam massacrado centenas sábado
TASHKENT. A comunidade internacional aumentou a pressão sobre o governo do Uzbequistão para que permita o acesso de observadores estrangeiros à cidade de Andijan, onde testemunhas afirmam que mais de 500 pessoas foram massacradas por soldados na repressão a uma manifestação no sábado. Ontem, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha pediram que Tashkent deixe entrar representantes da Cruz Vermelha ou diplomatas estrangeiros para avaliarem a situação, já que o governo admite 70 mortes.
A crítica mais forte veio de Londres. O chanceler Jack Straw atacou a "falta de democracia" e as "violações de direitos humanos" e disse ser injustificável que tropas governamentais abram fogo contra manifestantes. Straw afirmou ter recebido a promessa de que diplomatas poderiam entrar em Andijan. A cidade está isolada e cercada por soldados e vários jornalistas foram expulsos.
Condoleezza faz crítica mais branda a regime aliado
Nos Estados Unidos, por outro lado, o tom foi mais brando, já que o regime do presidente Islam Karimov é aliado de Washington, que mantém uma base aérea no país da Ásia Central. A secretária de Estado Condoleezza Rice pediu que Karimov relaxe a mão-de-ferro com que governa os 22 milhões de habitantes do Uzbequistão desde 1991.
- É um país que precisa, de uma certa forma, das válvulas de pressão que vêm com um sistema político mais aberto - disse Condoleezza.
Também a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa exortou o governo uzbeque a "levar em consideração os direitos das pessoas" e se propôs a colaborar na investigação das causas dos problemas que levaram aos distúrbios de sábado.
Relatos de outro massacre em Pakhtabad com 200 mortes
No Uzbequistão, continuam a vir à tona testemunhos de que as tropas do governo realizaram o maior massacre numa ex-república soviética desde a queda do comunismo em 1991. Um militante de direitos humanos fala de outra matança numa segunda cidade, Pakhtabad, onde aproximadamente 200 pessoas teriam morrido.
Em Tashkent, um reduzido grupo de 50 pessoas fez uma manifestação ontem em homenagem aos mortos. Militantes de direitos humanos uzbeques temem que uma onda de repressão se some ao massacre.
- Só se podem esperar prisões em massa e a eliminação dos que se opõem ao regime - alertou Saidjakhon Zainabitdinov, do grupo Apelo.
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