Título: CONGRESSO, PORÉM, CONSEGUE ASSINATURAS PARA ABRIR CPI
Autor: Adriana Vasconcelos e Maria Lima
Fonte: O Globo, 18/05/2005, O País, p. 3

Vice-presidente, Alencar defende investigação e petistas também assinam pedido para apurar denúncias de corrupção

BRASÍLIA. Em apenas um dia, a oposição no Congresso conseguiu, com o apoio de partidos aliados e até de petistas, o total de assinaturas necessárias para a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar denúncias de corrupção nos Correios. Até ontem à noite, já haviam sido coletadas 38 assinaturas de senadores (eram necessárias 27) e 183 de deputados (eram necessárias 171). O movimento pró-CPI ganhou força logo de manhã, quando o vice-presidente José Alencar, em visita ao Congresso, disse que, se fosse senador, assinaria o requerimento. E foi reforçado depois do discurso do deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB, que aparece na denúncia como suposto comandante do esquema de cobrança de propina nos Correios.

- É uma decisão do Congresso, mas, se ainda fosse senador, eu assinaria. Sempre fui a favor de CPIs - disse Alencar, frisando que é preciso evitar o prejulgamento de Jefferson.

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse no início da noite que não dificultaria a instalação da CPI:

- O que estiver dentro do regimento, vou cumprir. Não seguro nada. Vamos tomar providência para que todas as denúncias sejam apuradas. Nada ficará sem apuração.

No Senado, antes de crescer o movimento pró-CPI, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) pedia cautela:

- Claro que esse assunto tem mobilizado o país, tem repugnado a nação. Mas as investigações precisam mostrar primeiro se é caso de CPI. Precisam dizer também se é uma rede de corrupção ou se é apenas um funcionário corrupto, fanfarrão, que, para tomar mais dinheiro,, diz falar em nome de alguém.

Aldo tentou, em vão, impedir adesões

No meio da tarde, sem condições de barrar a comissão no Senado, onde não tem maioria, o governo concentrou esforços na Câmara. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, foi ao plenário ouvir o discurso de Jefferson, quando deu início a uma operação para impedir que fossem obtidas as 171 assinaturas de deputados. Como essa tentativa fracassou, o governo tentará retirar assinaturas ou dificultar a instalação da CPI.

Os autores do requerimento, PFL e PSDB da Câmara e Senado, decidiram sustentar como fato determinante para a criação da CPI apenas o caso das fitas em que Mauricio Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação de Materiais, aparece embolsando um maço de dinheiro. Mas não descartam a hipótese de as apurações incluírem outras denúncias de esquemas de propina em outras estatais.

- Se a apuração mostrar que existe uma quadrilha, vamos investigar também outros órgãos - disse o líder do PSDB, Alberto Goldman.

No Senado, também assinaram o PSOL, o PDT, integrantes do PMDB, e o PSB. O líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), anunciou apoio à investigação, seguindo orientação do partido.

- Roberto Jefferson divulgou o conteúdo integral da gravação com as denúncias. Nela são citados outros nomes, de políticos honrados. Essa fita deve ser ouvida por todos os brasileiros. Não tenho nada a ver com a bandalheira que acontece nos Correios. O Brasil precisa saber quem é honesto e quem é corrupto - afirmou Bezerra.

Na tentativa de frear a oposição no Senado, os líderes do governo , Aloizio Mercadante (PT-SP), e do PT, Delcídio Amaral (MS), começaram a trabalhar bem cedo, mas não conseguiram conter as adesões. O objetivo do governo é tentar caracterizar as denúncias como fato isolado.

- A mim preocupa que esse fato tome proporções políticas inimagináveis. Por causa de um chefe de setor vamos falar de corrupção em todas as estatais? Em queda de ministro? Devagar com o andor que o santo é de barro - criticou Delcídio.

Mas nem no PT houve unidade. À noite, o senador Cristovam Buarque (DF) manifestava o desejo de apoiar a comissão:

- A obrigação do partido é ajudar o governo e nem sempre isso é sinônimo de impedir CPI. Esconder os erros não ajuda - disse.

Na Câmara, a adesão dos petistas foi maior, apesar dos apelos do líder:

- Em todas as questões envolvendo corrupção no governo, o governo age imediatamente, demitindo a pessoa e aprofundando as investigações. A CPI é um instrumento que a oposição usa contra o governo - disse o líder do PT Paulo Rocha (PA).

COLABORARAM: Lydia Medeiros e Isabel Braga

"É uma decisão do Congresso (abrir ou não uma CPI), mas, se ainda fosse senador, eu assinaria. Sempre fui a favor de CPIs"

JOSÉ ALENCAR

Legenda da foto: O MINISTRO Aldo Rebelo (ao centro) assiste com deputados ao discurso de Jefferson