Título: Jefferson faz insinuações ao se defender e tem apoio de Severino
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 18/05/2005, O País, p. 4

Petebista diz que denúncia foi feita por empresas que perderam licitação

BRASÍLIA. Ao fazer sua defesa no plenário da Câmara, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, acusado de comandar um esquema de propina nos Correios, deixou o governo em situação delicada ao pôr os cargos do partido à disposição e ao assinar o requerimento da CPI. Jefferson disse que a denúncia não teve origem numa disputa política, mas em interesses de empresas contrariadas em licitação de mais de R$35 milhões nos Correios. Ao fim, foi aplaudido por um grupo grande de deputados.

Jefferson denunciou um suposto esquema montado por um certo comandante Molina e um coronel Fortuna - que não soube explicar quem são - e que teriam se organizado para cobrar propina e fazer chantagem no governo. Ele contou que no dia 3 de maio foi procurado por um homem identificado como coronel Fortuna, dizendo que tinha a fita com gravações que complicavam sua vida e a de Maurício Marinho, ex-chefe do Departamento de Contratação e Materiais dos Correios.

Jefferson distribuiu a deputados e jornalistas a íntegra da fita com a gravação em que Marinho é flagrado recebendo dinheiro de supostos empresários. E também a carta de Marinho, enviada ontem, em que o funcionário reconhece que errou ao dizer que tem relação de amizade com o presidente do PTB. Mas a defesa de Jefferson não foi convincente para derrubar o pedido de CPI. Depois de seu discurso, cresceu o número dos apoiadores da comissão.

Declaração de Genoino deixa petebista irritado

Irritado com declarações do presidente do PT, José Genoino, de que o partido nada engaveta e que é favor de investigar tudo, Jefferson, com voz embargada, disse que só tem dois imóveis:

- Quero dizer ao meu amigo Genoino, que, como eu, não se afasta da ética, que sempre tive fama de troglodita, mas nunca de ladrão. Vou descer da tribuna e assinar a CPI. Nada temo. O PTB não se preocupa com a investigação. Maurício (Marinho) disse na fita que esses arapongas comandam um esquema em 18 estatais. Se tem isso, se tem envolvimento de outros partidos citados, vai ser tudo investigado - encerrou Jefferson.

O presidente do PTB disse que foi procurado depois que o diretor de administração dos Correios, Antônio Osório - indicado para o cargo pelo PTB - revogou licitação de R$35,8 milhões de empresas representadas por Fortuna. O militar teria lhe dito que empresários que gravaram a fita queriam negociá-la com ele, que teria se negado a aceitar a chantagem. O coronel também teria ido a Marinho e ameaçado acabar com sua vida. Logo após a fita teria sido entregue à "Veja".

- O discurso mostra que tem ainda mais coisas para apurar. Jefferson se diz vítima de chantagem de alguém que o governo não está amparando. E pede a CPI que os líderes governistas não querem. Então o governo é que fica sob suspeição - disse o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

- Não quero saber de discurso. Quero saber é da apuração. A CPI vai mostrar quem é esse Fortuna, e principalmente, onde está a fortuna - emendou o deputado Walter Pinheiro (PT-BA).

Gesticulando muito, Jefferson ironizou e tentou desmoralizar o jornalista Policarpo Júnior, autor da reportagem de "Veja". Aproveitou para lançar farpas e fazer piadas com outro jornalista, Expedito Filho, do "Estado de S.Paulo", que teria se referido a ele como um troglodita. O fato de ter citado Expedito gerou piadas no plenário sobre santos.

- Ele (Jefferson) tem que apelar a São Dimas, protetor dos ladrões - disse Félix Mendonça (PFL-BA).

Na tribuna, Jefferson lê carta de Maurício Marinho

Ainda da tribuna, Jefferson leu a carta enviada por Marinho ao presidente dos Correios, João Henrique, admitindo que não tinha intimidade com o presidente do PTB e que o dinheiro que aparece embolsando não era propina, mas pagamento por uma consultoria que faria para a empresa Golden Equipament. "Esclareço ainda que não sou amigo íntimo do deputado Roberto Jefferson. Tudo mais que eu possa ter dito não passou de vaidade e de uma maneira de me valorizar profissionalmente", diz Marinho na carta.

- Ele falou aquilo por vaidade, para aparecer. O que aparece é uma pessoa se gabando, vendendo o prestígio que não tem - disse Jefferson, informando que Marinho estava muito doente e precisava "auferir recursos" para se tratar.

As versões de Jefferson agradaram. Para o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, o presidente do PTB fez uma "defesa brilhante". O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, seguiu no mesmo tom:

- Ele revelou fatos novos. Não me cabe acreditar ou não.

Para o líder do governo Arlindo Chinaglia, Jefferson foi bem.

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Boato deixa PMDB em pânico

Mas gravação não tem citações que comprometam peemedebistas

BRASÍLIA. Parlamentares do PMDB ficaram em pânico com o vazamento da informação de que nomes do partido haviam sido citados por Maurício Marinho na conversa gravada pelos representantes da empresa Alfa 1. O presidente do PTB, Roberto Jefferson, enviou cópia da gravação aos 81 senadores e 512 deputados, além de jornalistas. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), advertiu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que havia citação de peemedebistas, entre os quais Renan e o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. Mas na gravação, de uma hora e 54 minutos, não há citação comprometedora a outros políticos, além do próprio Jefferson, e do diretor de Administração dos Correios, Antonio Osório. A citação a peemedebistas acontece quando a secretária de Marinho informa que Antonio Pedreira, candidato a presidente em 1989, está aguardando. Marinho diz:

- É o presidenciável, Antonio Pedreira. Ele é consultor e tem um escritório de advocacia que dá suporte a um grupo de empresas. É uma pessoa que tem um relacionamento muito bom com o presidente (João Henrique, dos Correios), com o diretor (Antonio Osório, de Administração), com Roberto Jefferson (presidente do PTB) e Renan Calheiros (presidente do Senado). Ele é muito amigo do ministro (Eunício Oliveira) e do secretário-executivo Paulo Lustosa. E também é amigo do futuro diretor (Ezequiel Ferreira de Souza que estava para ser nomeado diretor de Tecnologia dos Correios).

Marinho diz que é a porta de entrada nos Correios para o pagamento de propinas. E acrescenta que tinha recebido delegação de Osório para isso. Em outro trecho, Marinho diz que o diretor de Recursos Humanos dos Correios, Robson Viana - suplente do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB) - pleiteou a Secretaria de Tecnologia dos Correios. Ele diz que Robson está lutando para ser vice-presidente de Tecnologia do Banco do Brasil:

- Esse cara é nosso. É do PMDB mas está fechado. Temos outras empresas de porte nacional. São 18 empresas. Estou falando só do grupo do PTB, ele (Robson) é um extra do PMDB que está fechado conosco.

Legenda da foto: O LÍDER DA MINORIA, José Carlos Aleluia: "O discurso mostra que tem ainda mais coisas para apurar"