Título: Planalto não segura base, que pede CPI
Autor: Maria Lima, Adriana Vasconcellos e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 19/05/2005, O País, p. 3

Aliados ajudam a criar comissão para apurar corrupção nos Correios

Ogoverno não conseguiu segurar sua base aliada, a oposição agiu com rapidez e ontem mesmo, apenas três dias depois de iniciado o movimento pró-CPI, foi protocolado na Mesa do Congresso o pedido de abertura da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar denúncias de esquema de propinas na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Assinaram o pedido, até as 19h30m, 223 deputados e 46 senadores. Na Câmara, todos os partidos aderiram à CPI, inclusive o PT, com 19 nomes. Foram 113 assinaturas de deputados de oposição e 110 de aliados do Planalto. No Senado, 33 da oposição e 13 de governistas.

Ainda atônitos e sem saber o que fazer em relação à CPI, os líderes governistas ganharam uma semana de tempo para detalhar a estratégia de reação. Governistas acham que ainda dá para impedir a instalação da CPI com a retirada de assinaturas. Se instalada, a presidência da CPI ficará com um senador do PMDB e a relatoria, com um deputado do PT, maiores bancadas no Senado e na Câmara.

O discurso dos dirigentes do Congresso e dos líderes governistas era de muita cautela. Mas ninguém assumiu publicamente que se tentará barrar a CPI.

¿ Com todos os líderes com quem conversei senti disposição de indicar. O propósito de todos é esclarecer os fatos ¿ afirmou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que recebeu o pedido.

Regimentalmente, Renan será obrigado a indicar os integrantes de cada partido na CPI se os líderes não o fizerem num prazo de 30 dias depois da leitura, que deverá acontecer na próxima semana.

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse que vai discutir com os líderes e com Renan o encaminhamento que será dado ao pedido, mas argumentou:

¿ Uma CPI é um grande embaraço. Todo mundo sabe como começa mas não sabe como termina ¿ disse Severino que defendeu apaixonadamente Roberto Jefferson.

¿ Ele provou que não tem nada para que possa ser condenado. Não vamos encontrar nada que desabone o deputado.

O nome mais cotado do PT para a relatoria da CPI era o do ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP), mas ele revelou a colegas que não deseja o cargo. Outros nomes lembrados são os dos deputados Sigmaringa Seixas (DF) e Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Para a presidência, foi citado o senador Maguito Vilela (GO), considerado o mais governista da bancada do PMDB no Senado.

A oposição comemorou, mas teme a ação do governo para levar seus aliados a retirar assinaturas:

¿ É quase impossível barrar esta CPI, embora haja a possibilidade de retirar assinaturas até a leitura do requerimento em plenário ¿ afirmou o líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP).

Dentro do PT há um grande desconforto com os 19 parlamentares que assinaram a CPI. Em reunião quase permanente desde a noite de terça-feira, com a participação do presidente José Genoino e do tesoureiro Delúbio Soares, os deputados petistas estão com os nervos à flor da pele. Os que assinaram foram chamados de ingênuos por Genoino e quase de traidores do governo pelo professor Luizinho (PT-SP).

¿ É um erro político apoiar a CPI. É ingenuidade achar que a oposição não vai usá-la para derrotar o PT em 2006. Temos que fazer um pacto para evitar isso ¿ disse Genoino, irritando os que assinaram.

¿ Como membro da bancada dos ingênuos, eu proponho que façamos um pacto do enfrentamento para resolver problemas como os de Jucá e dos Correios, que estão aparecendo semanalmente. Não se trata aqui do que vai ser usado pela oposição, mas do nosso compromisso em investigar denúncias de corrupção ¿ reagiu Mauro Passos (PT-RS).

O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), que vai indicar os membros, considera a CPI irreversível e diz que o objetivo agora é fazer com que ela funcione dentro de limites, sem dar palanque para a oposição.

No Senado, o PT conseguiu segurar os seus senadores, apesar da intenção declarada de Cristovam Buarque (DF), Eduardo Suplicy (SP) e Tião Viana (AC) de assinar o requerimento. Em reunião da bancada, o líder, Delcídio Amaral (MS), pediu aos três que aguardassem.

¿ Acho desnecessária esta CPI. Acho inacreditável. Mas era impossível barrar. De qualquer forma, como é um fato isolado, não há o que temer. Mas a CPI vai prejudicar a agenda positiva do Congresso ¿ admitiu Delcídio.

O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), foi um dos que falaram em estender as investigações aos governos passados, esmiuçando, por exemplo, as privatizações da administração Fernando Henrique Cardoso. O líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), um dos que assinaram o pedido, concordou:

¿ Se é para abrir a temporada, que seja completa ¿ disse Bezerra.