Título: GOVERNISTAS INICIAM OPERAÇÃO PARA TENTAR EVITAR A INSTALAÇÃO DA CPI
Autor: Maria Lima, Isabel Braga e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 19/05/2005, O País, p. 4

Se não conseguirem, petistas e aliados ameaçam investigar governo FH

BRASÍLIA. Surpreendido com a agilidade da oposição na coleta de assinaturas para criar a primeira investigação política contra o governo Lula, líderes governistas iniciaram ontem uma operação para tentar evitar que a CPI seja instalada. Mas se a investigação for inevitável, o governo tentará garantir maioria na comissão para restringir a apuração ao caso de cobrança de propina nos Correios. Se, ainda assim, a oposição tentar transformar a CPI numa ameaça ao governo, o Planalto se prepara para apontar o lança-chamas em direção aos tucanos.

PSDB e PFL lideram a articulação para instalar a CPI. Os governistas dizem que, se existe um esquema de corrupção nos Correios e em outras empresas públicas, ele não é de agora e deve ter funcionado em outros governos também.

¿ Não vamos ficar acuados num canto. Se tiver a investigação, ela vai começar em 1995, no primeiro ano do governo Fernando Henrique. Sabemos que é difícil impedir a CPI depois que o PTB decidiu apoiar, e não é o caso de nós (os petistas) ficarmos no papel de patinho feio ¿ disse o ministro Jaques Wagner, da coordenação de governo.

¿ Os aliados só vão indicar gente de fé ¿ disse um aliado do governo no Congresso.

Na Câmara, o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), passou a tarde tentando convencer líderes e parlamentares aliados a retirarem suas assinaturas do pedido de criação da CPI. Não foi muito feliz. Apenas Vicentinho (PT-SP) concordou em retirar sua assinatura.

Nem o presidente do PT, José Genoino, que entrou em campo na terça-feira à noite para brecar a CPI, conseguiu convencer 19 petistas de que estavam cometendo um erro político. Ficou difícil para o governo convencer aliados a retirar suas assinaturas depois que o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), anunciou apoio à investigação.

¿ O governo está trabalhando para tirar asssinaturas. Vieram conversar comigo. Mas neste caso não posso fazer isso. Minha posição é delicada: o PTB é réu. Sabemos que a CPI é política, mas não dá ¿ disse o líder do PTB, José Múcio (PE).

Aldo convence Renan a adiar leitura de pedido

Para ganhar tempo, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, convenceu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a adiar para a próxima semana a leitura do pedido de criação da CPI. Eles conversaram por telefone no meio da tarde e Renan se comprometeu a marcar a sessão do Congresso para quarta-feira, tempo necessário para o governo insistir na retirada de assinaturas.

O governo também avalia que, na semana que vem, com os ânimos menos exaltados, o movimento pela CPI irá arrefecer. Neste contexto, foi elogiada a decisão de Jefferson de distribuir a gravação da conversa.

O empresário Mauro Dutra, dono da Novadata, que fornece equipamentos e serviços de informática para o governo, mandou um recado para alguns ministros petistas, dizendo que eles não tinham com o que se preocupar pois no governo Lula, de quem é amigo, ele tem apenas 8% dos contratos em relação aos que tinha no governo Fernando Henrique.

Os governistas também já estabeleceram que, caso a CPI seja instalada, não permitirão a quebra indiscriminada de sigilo bancário, fiscal e telefônico. Com isso, querem evitar a chamada pescaria, ou seja a busca de provas contra quem não há indícios. Ao mesmo tempo que buscará evitar a CPI e reduzir seus danos, o governo pretende demonstrar à opinião pública que está investigando os fatos com os seus instrumentos: a Polícia Federal e a Corregedoria Geral da União.

No Palácio do Planalto existe ainda o temor de que esta CPI acabe atrapalhando a votação de projetos de interesse do governo que estão na Câmara, como a reforma tributária e a regulamentação das agências reguladoras, e os que vão chegar nos próximos dias, caso do marco regulatório do setor de saneamento e da lei que cria o Fundeb, que vai financiar os ensinos fundamental e médio.