Título: Líderes alertam para risco da crise de credibilidade de governo e Congresso
Autor: Maria Lima, Isabel Braga e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 19/05/2005, O País, p. 4

ESCÂNDALOS EM SÉRIE: PARA LULA, IDEAL É INVESTIGAÇÃO FICAR RESTRITA AO MP E À PF

`Os Poderes estão se destruindo mutuamente perante a opinião pública¿

BRASÍLIA. A preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a CPI dos Correios ficou evidente ontem ao tentar, pela segunda vez, convencer os líderes dos partidos de sua inconveniência. Durante o café da manhã com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), integrantes da Mesa e todos os líderes de partidos, inclusive da oposição, Lula fez uma defesa indireta do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), e disse que o melhor seria que as investigações do esquema de propinas nos Correios ficassem restritas ao Ministério Público e à Polícia Federal.

Diante do discurso do presidente, a maioria dos líderes fez um alerta sobre as conseqüências desastrosas da crise de credibilidade do governo e da classe política diante de tantos escândalos de corrupção.

¿ Os órgãos do governo estão investigando com independência e competência o problema dos Correios. A Polícia Federal tem uma postura zelosa, não põe as pessoas sem ter provas. Ninguém pode prejulgar. Muitos políticos já sofreram na pele com a injustiça de prejulgamentos ¿ ponderou Lula.

¿ Mas, presidente, se precisar, a Câmara vai cortar na própria carne ¿ rebateu o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

Mesmo com Lula evitando citar nominalmente o deputado Roberto Jefferson, apontado na denúncia como chefe do esquema de cobrança de propina nos Correios, os líderes da oposição entenderam o recado.

¿ O governo parece uma peneira, vazando por todo lado. É preocupante o número de pessoas que podem estar envolvidas em esquemas de corrupção ¿ disse o líder da minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA).

Oposição cita escândalos

Quase todos os líderes presentes, principalmente os da oposição, aproveitaram o encontro para reclamar do desgaste sofrido com a paralisia da Câmara, provocada pela obstrução do governo, e com a avalanche de denúncias de corrupção nas últimas semanas. Foram lembradas a prisão dos prefeitos em Alagoas; a abertura de processos contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, e contra o presidente do Banco Central, Henrique Meireles; a inelegibilidade do casal Garotinho; e a cobrança de propina por deputados estaduais em Rondônia.

¿ Os Poderes estão se destruindo mutuamente perante a opinião pública. Lembra o período que antecedeu o debate da Constituinte, cujo desgaste resultou na maior renovação da História do Congresso, quando o povo mandou para casa 3/4 do Congresso ¿ disse o vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL).

¿ Estamos vivendo momentos de grande desgaste com grandes escândalos de corrupção. Tanto agora quanto no governo Fernando Henrique, as dificuldades políticas levaram a que governos patinassem na economia, com números muitos baixos de crescimento econômico. Essa estrutura provoca a mediocridade do período político. Precisamos da reforma política urgente ¿ completou o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).

Aleluia disse que a situação da classe política está tão ruim que os parlamentares evitam se identificar como tal, porque "a opinião pública considera que todos são ladrões".

¿ O momento é desfavorável para o mundo político. Há um acúmulo de fatos negativos para os políticos. Temos que enfrentar isso de frente.