Título: Correios cancelam compra suspeita de remédios
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 19/05/2005, O País, p. 5

ESCÂNDALOS EM SÉRIE: OITO AUDITORES DA CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO FARÃO DEVASSA NOS CONTRATOS DA EMPRESA Diretor flagrado recebendo propina preparou a licitação de R$305 milhões para a aquisição de medicamentos

BRASÍLIA. Os Correios cancelaram ontem a licitação de aproximadamente R$305 milhões para a contratação de uma empresa que deveria fornecer medicamentos para 70 mil servidores por cinco anos. A decisão foi tomada porque boa parte da fase preliminar do pregão, que começaria amanhã, foi preparada pelo ex-diretor de Contratação Maurício Marinho, apontado como um dos principais beneficiários de um esquema de corrupção nos Correios.

Além disso, a Polícia Federal está investigando supostas fraudes em contratos dos Correios desde a Operação Vampiro, deflagrada ano passado para investigar a chamada máfia do sangue.

Pelas investigações da PF, os Correios seriam uma das seis áreas de atuação dos vampiros que atacavam as compras de medicamentos no Ministério da Saúde. Na conversa gravada com dois representantes de uma empresa interessada em fazer contratos com os Correios, no mês passado, Marinho diz que o edital de compra de medicamentos teria sido preparado para favorecer quatro empresas indicadas por um deputado e por um senador.

¿Nós temos de atender às quatro que vieram indicadas pelo deputado A e pelo senador B. Ele é que vai fechar a participação. O acerto é dele. Dessa participação dele, uma parte vai para nosso partido. A licitação vai estar saindo nos próximos dias¿, afirma Marinho, em um trecho do diálogo divulgado domingo pela revista ¿Veja¿.

Coube a Marinho fazer a pesquisa de preços. Segundo José Roberto de Andrade, um dos gerentes da Diretoria de Recursos Humanos, Marinho fez consulta a quatro empresas: Funcional Card, Prev Saúde, ABC Data (representante de outra empresa argentina) e a Embratec.

Andrade nega que as regras do edital, divulgado semana passada, tenham sido elaboradas para beneficiar as empresas procuradas por Marinho.

¿ Como é que se beneficiaria quatro empresas, se apenas uma seria vencedora? A licitação era para a contratação de uma empresa ¿ disse.

Marinho se afastou dos Correios. Terça-feira teve um encontro com o diretor de Recursos Humanos, Robinson Viana, suplente do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Segundo Viana, Marinho está abatido. Na conversa, Viana prometeu que o salário de Marinho, cerca de R$10 mil mensais, não será cortado até o fim das investigações.

A Controladoria-Geral da União destacou oito auditores para fazer uma devassa nos contratos suspeitos dos Correios. A CGU fará auditoria especial nas licitações sob suspeita.