Título: Gabiru: euros, dólares e reais em dinheiro vivo
Autor: Arnaldo Ferreira
Fonte: O Globo, 19/05/2005, O País, p. 10

ESCÂNDALOS EM SÉRIE: O EQUIVALENTE A R$192 MIL FOI APREENDIDO NAS CASAS DE PRESOS POR DESVIO DE VERBAS EM ALAGOAS Governador, Lessa se queixa a Lula de PF ter usado algemas nos prefeitos presos e também do nome da operação

MACEIÓ e BRASÍLIA. A Polícia Federal informou ter encontrado o equivalente a cerca de R$192 mil em dinheiro vivo e em diferentes moedas nas casas de um prefeito, um ex-prefeito e um secretário municipal presos anteontem em Alagoas na Operação Gabiru por desvio de recursos federais de educação e saúde.

Embora sejam de cidades pequenas e pobres do interior do estado, Cícero Cavalcante, prefeito de São Luiz do Quitunde, tinha em casa R$48.540. Rafael Torres, ex-prefeito de Rio Largo, tinha 20 mil euros. E Fernando Antônio Baltar Maia, secretário de Finanças de Branquinha, U$28 mil.

Segundo a Polícia Federal, os dólares apreendidos com o secretário de Branquinha teriam sido obtidos nas operações da quadrilha de desvio de dinheiro do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef).

Ontem, a Polícia Federal prendeu mais um empresário e um secretário do município de Água Branca, aumentando para 29 o número de presos na Operação Gabiru. Os policiais informaram que ainda há dois prefeitos de cidades do interior foragidos.

Em audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, no Palácio do Planalto, o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa (PDT), reclamou da atuação da Polícia Federal na Operação Gabiru. Segundo Lessa, a PF exagerou ao algemar os presos. Ele também protestou contra o nome da operação que, em sua opinião, é desrespeitoso com Alagoas. Segundo o Aurélio, Gabiru significa rato, larápio, gatuno.

¿ Em Alagoas, eu já sofri muito tempo com a marca da corrupção. Agora, ficamos tristes com o termo gabiru. É um desrespeito ao estado. Eu não gostei do termo gabiru e não gostei das imagens, acho que foi duro. O resto, eu aplaudo ¿ disse o governador.

Segundo Lessa, Lula minimizou as críticas, argumentando que a operação é importante.

Com base na avaliação de 11 técnicos da Controladoria Geral da União, o superintendente da Polícia Federal de Alagoas, Carlos Rogério Cota, disse que os dólares e os euros apreendidos podem ser resultado do desvio do dinheiro federal em 2004 e este ano:

¿ O esquema fraudava licitações, emitia notas fiscais frias para as prefeituras e este ano embolsou cerca de R$2 milhões. O chefe do esquema era o ex-prefeito Rafael Torres.

Nas empresas fantasmas de Francisco Erivan dos Santos, um dos presos na operação, foram apreendidos 15 processos de licitações frias, prontos para serem usados no desvio de verbas federais.