Título: LULA: NÍVEL DA ECONOMIA SE COMPARA AO DA ERA JK
Autor: Luiza Damé e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 18/05/2005, Economia, p. 25

Palocci defende juros altos e diz que crédito descontado em folha tem efeito pontual na inflação apenas a curto prazo

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Numa reunião convocada para resolver pendências políticas entre o governo e os líderes aliados na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo alguns dos presentes, destacou ontem o desempenho da economia brasileira. Em seu pronunciamento, ele afirmou que em dois anos e meio já fez mais do que Fernando Henrique Cardoso em dois mandatos, e que o atual nível da economia brasileira só é comparável ao dos governos Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

O presidente citou a geração de emprego em abril, quando foram registrados 266.095 novos postos com carteira. Lula lembrou que os dados do emprego no mês passado são os melhores desde abril de 1992, ano de estréia da série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). No primeiro quadrimestre deste ano, o saldo do emprego formal no país (diferença entre admitidos e demitidos) foi de 558.317 postos, também o melhor resultado em 13 anos.

- O presidente Lula reafirmou que vai fazer a articulação política mais próxima da base, para que a instabilidade política não mascare os bons resultados do governo - disse o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES).

Já o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendeu ontem as recentes elevações da taxa básica de juros e disse que a expansão do crédito, especialmente dos empréstimos com desconto em folha, representa uma importante conquista para o país. Segundo ele, embora tenha um efeito pontual sobre a inflação, é equivocado dizer que a expansão do crédito bancário prejudica a política monetária, ou os fundamentos da economia brasileira.

- Os trabalhadores foram aos bancos e conseguiram reduzir os juros dos empréstimos à metade. Eu vou dizer que isso está atrapalhando a inflação? - disse o ministro, ontem na sede Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), durante evento sobre as relações Brasil-Portugal. - Se a mudança no crédito tem algum nível de pressão sobre a inflação a curto prazo, a médio e a longo prazos ajuda a política monetária.

Para o ministro, as críticas dos empresários à atual política de juros é natural, mas não deve ser levada em conta nas decisões de investimento do setor produtivo. Segundo ele, o atual aperto monetário é transitório e necessário para reduzir as vulnerabilidades.

- O que assusta o investidor é não saber se o país estará equilibrado à frente - disse o ministro.

Palocci lembrou que a poupança bruta interna no país cresceu de 18,5% do PIB em 2002 para 23,2% em 2004.

- É uma evolução extraordinária que tem impacto sobre os investimentos a curto e médio prazos - afirmou.

O ministro também defendeu o câmbio flutuante:

- Não nos parece que a balança comercial foi abalada até aqui. Os resultados contrariaram todas as expectativas, inclusive as nossas.