Título: USIMINAS FOI ACUSADA DE ESPIONAGEM
Autor: José Casado/Luiz Henrique
Fonte: O Globo, 18/05/2005, O Mundo, p. 33

Há 42 anos sem greves, empresa nega ter vigiado empregados

Foi há 42 anos a última vez que os habitantes de Ipatinga, encravada no centro do Vale do Aço, em Minas Gerais, assistiram a uma greve na Usiminas, uma das maiores siderúrgicas brasileiras. Era 1963, e o conflito trabalhista foi encerrado a bala, com mortes, por tropas da Polícia Militar. Desde então, predominou a "paz social" na fábrica.

Em 1997, o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga recorreu à Justiça, depois de descobrir indícios de que a empresa mantivera por mais de três décadas um sistema de vigilância dos empregados, dentro e fora da siderúrgica. Apresentou centenas de páginas de fichas de empregados, com registros sobre comportamento no trabalho e na vida privada, acompanhadas do testemunho de um ex-funcionário do departamento de segurança da Usiminas.

A empresa refuta as acusações: "As denúncias sobre rede de arapongas são completamente infundadas", afirmou em nota. "A Usiminas sempre teve com a comunidade de Ipatinga uma relação de respeito e parceria, e se orgulha de ter sido uma das responsáveis pelo fato de a cidade ser hoje exemplo nacional de qualidade de vida e modernidade."

A siderúrgica de Ipatinga, cujo capital até a privatização em 1990 era partilhado pelo Estado e grupos japoneses, tornou-se a primeira empresa a enfrentar um inquérito civil público (número 47/97), movido por empregados e sob a acusação de espionagem política, durante a ditadura militar.

As fichas indicavam que o departamento de segurança da empresa montara um sistema pelo qual codificava cada ato "suspeito" de um empregado. Eram 19 os códigos, que cobriam desde assuntos rotineiros, dentro da fábrica, até uma discussão num bar, ou mesmo uma briga ocorrida dentro de casa. Os mais graves, classificados como "política de esquerda", eram codificados sob o número "1". "Sabotagem" levava o número "7". "Problemas familiares", "17". Hábitos e condutas sexuais também eram observados. Mas a ação não avançou na Procuradoria do Trabalho, em Belo Horizonte.

- Houve ingerência política - diz Altair Vilar, ex-presidente do sindicato dos metalúrgicos, hoje vereador do Partido dos Trabalhadores. - A Usiminas mobilizou uma bancada inteira de deputados para derrubar a denúncia do sindicato e conseguiu, pelo menos até agora.

Em 2000, a empresa voltou a ser processada, com um requerimento de prisão para o seu presidente, Rinaldo Soares, por suposta coação de empregados em uma "campanha de desfiliação em massa dos associados do sindicato". O caso, também, foi arquivado. Na réplica judicial, ao pedir a retomada do inquérito, o sindicato voltou a acusar a Usiminas "de impor a lei do cão, imiscuindo-se até em assuntos privados dos seus empregados".

COLABOROU: Luiz Henrique Yagelovic