Título: O DESAFIO MONUMENTAL DE DECIFRAR O UNIVERSO
Autor: Roberta Jansen
Fonte: O Globo, 18/05/2005, Especial, p. 2

FÍSICOS INVESTIGAM OS MENORES E OS MAIORES SEGREDOS CÓSMICOS EM BUSCA DE RESPOSTAS SOBRE O DESTINO DO HOMEM E DO COSMO. A CIÊNCIA AVANÇA PELA FRONTEIRA DO INVISÍVEL PARA CRIAR AS TECNOLOGIAS QUE MOLDARÃO NOSSO FUTURO

CONCILIAR DOIS dos principais legados de Albert Einstein, a física quântica e a relatividade geral, criando uma teoria unificada e mais consistente para explicar os fenômenos da natureza, é um dos maiores desafios da física atualmente, concordam especialistas. Segundo cientistas, entretanto, teorias tão ou mais revolucionárias que as de Einstein, que apresentassem novas concepções sobre o espaço-tempo, precisariam advir para a solução do impasse.

À medida que novos fenômenos, escalas, domínios da natureza e tecnologias surgirem, teorias mais amplas serão necessárias para explicá-los, acreditam.

- Quando se considera a idéia de Einstein, da gravidade ligada à geometria do espaço-tempo, é preciso olhar o que acontece com o espaço-tempo numa escala muito abaixo da microscópica, tão distante da nossa quanto a do Universo - sustenta o físico Moysés Nussenzveig, explicando por que é difícil unificar a teoria quântica à da relatividade geral. - Estamos falando de distâncias e tempos tão curtos, tão pequenos, que é difícil conceber acesso a essas escalas em laboratório. E nessas escalas, o conceito de espaço-tempo precisa ser revisto.

Por enquanto, aponta Nussenzveig, não há teoria consistente para se chegar a essas escalas. A Teoria das Cordas, que tenta fazer isso, é a mais conhecida e mais aceita atualmente, mas, segundo os especialistas, ainda é embrionária.

- Estamos caminhando para uma tecnologia que envolve sistemas cada vez mais microscópicos - constata o físico Luiz Davidovitch. - Disso resulta que começamos a lidar com aplicações da física quântica no nível microscópico, aplicações que lidam com propriedades quânticas que intrigaram Einstein durante muitos anos.

A SOLUÇÃO de tal problema é considerada fundamental a médio prazo, sobretudo num momento em que a nanotecnologia desponta como uma das mais promissoras áreas da física, em áreas que vão da eletrônica à biologia. A nanotecnologia lida com escalas atômicas e moleculares, ainda assim, mais de 30 ordens de grandeza acima da gravidade quântica.

Outro importante desafio da física, na análise dos especialistas, diz respeito justamente a sua relação com a biologia.

- Cada vez mais constatamos que mecanismos moleculares biológicos básicos são diretamente influenciados pela física - aponta Davidovich. - Por isso, acredito que a física terá um papel cada vez mais importante na biologia, ajudando a explicar características de moléculas e sistemas biológicos.

Outro grande problema em aberto a intrigar os cientistas diz respeito ao ínfimo conhecimento que se tem do Universo.

- Se por um lado a física nos permitiu explicar desde fenômenos em escala subnuclear até do Universo, por outro, descobertas recentes mostram que tudo aquilo que tratamos na física seria apenas 4% do que está contido no Universo - diz Nussenzveig. - Há a matéria escura e a energia escura sobre as quais há conjecturas.

Esse conhecimento mais profundo que, em tese, permitiria até mesmo as viagens no tempo, só será possível com novas teorias ou, quem sabe, um novo Einstein.

Uma hora sentado com bela jovem num banco de praça passa como um minuto, mas um minuto sobre forno quente parece uma hora"

Einstein explicando a Teoria da Relatividade a leigos

Legenda da foto: A IMAGEM DO Telescópio Hubble, da Nasa, mostra a nebulosa Ômega: cientistas estimam apenas 4% do que está contido no Universo. A matéria escura é ainda é um grande mistério para especialistas