Título: NAS TELAS, PERSONAGEM DE COMÉDIAS ROMÂNTICAS
Autor: Roberta Jansen
Fonte: O Globo, 18/05/2005, Especial, p. 2

NA FAMOSA TRILOGIA "DE VOLTA PARA O FUTURO", CIENTISTA EXCÊNTRICO GANHA ARES DE EINSTEIN

PARA UM PERSONAGEM tão cinematográfico até na aparência, Albert Einstein foi surpreendentemente pouco explorado pelo cinema. Talvez a situação se auto-explique: ficaria difícil competir com o verdadeiro. E, com os limites naturais de um filme, procurar dar conta de sua dimensão para o mundo da ciência, em particular, e para o mundo em geral seria infrutífero, ilusório, estrada certa para o fracasso.

Bingo, portanto: Einstein no cinema, só sem levar muito a sério. Por exemplo, inventando-lhe uma juventude na qual teria criado a guitarra elétrica, o skate e a fórmula do borbulhar da cerveja, como fez um australiano que assinou "O jovem Einstein" (1988), o filme em questão, como Yahoo Serious (nome real: Greg Pead), acumulando os créditos de diretor, produtor, roteirista e intérprete do cientista aloprado. Deu certo. O longa acabou fazendo uma carreira internacional bem-sucedida.

A Paramount, por sua vez, colocou o cientista como cupido de Meg Ryan e Tim Robbins em "I.Q. - A teoria do amor" (1994). A comédia romântica de Fred Schepisi trazia Walter Matthau como Albert Einstein, numa encarnação bom-velhinho, devotado à sobrinha (Ryan), e disposto a tirá-la das mãos de um noivo arrogante, e entregá-la a um simpático mecânico (Robbins) apaixonado por ela. Neste filme, Einstein/Matthau faz as vezes de Cyrano de Bergerac intelectual do rapaz, emprestando-lhe seu conhecimento científico para que ele impressione a moça.

Se essas são as encarnações cinematográficas mais conhecidas de Einstein, só vêm corroborar a velha tese de que é sempre difícil recriar no cinema os mitos da vida real. É sempre mais fácil disfarçá-los, sugeri-los, sob a pele de personagens inventados.

O que nos leva à trilogia "De volta para o futuro", de Robert Zemeckis, esta sim parte do imaginário coletivo desde a época de lançamento dos filmes (1985, 1989, 1990).

Ali, na figura do cientista excêntrico Doc Brown (Christopher Lloyd), que tem até o mesmo cabelo arrepiado arquetípico, e na estruturação da trama de viagem no tempo, que deve tudo à Teoria Geral da Relatividade, está a mais marcante utilização do postulado einsteiniano no cinema.

E, para não deixar dúvida sobre as intenções do diretor, o cachorro de Doc Brown nos três filmes da seqüência tem o nome de um cientista famoso. Alguém arriscaria dizer qual?