Título: Planos de batalha
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 20/05/2005, O Globo, p. 2
Daqui até quarta-feira os governistas enfrentarão uma tarefa hercúlea: convencer quase 50 deputados a retirar suas assinaturas do pedido de instalação da CPI dos Correios. Muito difícil, embora não seja impossível. Para o caso de fracasso, tem o governo seu plano B: tentar assumir o controle da CPI, indicando quadros experientes e de lealdade provada, limitando a investigação aos Correios.
Este segundo plano também é complexo, exige uma ordem unida entre aliados que se dispersaram e perderam a coesão. O primeiro terá custos elevados, tanto pelo desgaste de abafar uma segunda tentativa de investigação parlamentar como pelas concessões que terão de ser feitas aos aliados. E ironicamente, se há riscos de localização de outras poças de corrupção, elas envolvem exatamente os partidos aliados. Mas quando há tinta na caneta, emendas a serem liberadas e um trator em ação - o ministro Dirceu, que entrou de sola na operação - as chances de êxito existem.
Se olharmos para trás, recordaremos que o governo Fernando Henrique conseguiu impedir a instalação de todas as CPIs que foram propostas, usando o mesmo método. E tinha, como o governo Lula, o mesmo argumento: CPIs viram palco de luta política, vão paralisar a agenda legislativa e há o risco de contaminação da economia pela criação do ambiente de incerteza política. O retrovisor nos mostrará ainda momentos de conturbação política tão agudos como este de agora. Em todas as ocasiões que mandou CPIs para o arquivo, o governo passado enfrentou adesões de aliados, que depois de uma boa conversa recuaram. E o PT não lhe dava trégua. Chegou a montar no Congresso um grande varal em que dependurou dezenas de bandeirolas com denúncias de irregularidades, pedindo a instalação de uma CPI genérica da corrupção.
A diferença é que a base parlamentar de Lula, na qual estão todos os partidos que apoiavam FH, à exceção do PFL, perdeu a coesão e a disciplina. E o partido do presidente, diferentemente do PSDB, que não vacilava nestas horas, exibe uma incompreensível turvação do instinto de preservação do poder. Comete desatinos como o de anteontem no Senado ou supervaloriza derrotas menores, em disputas com os próprios aliados, como no caso da aprovação do nome do novo ministro do TCU. Sem falar nas disputas entre pré-candidatos às eleições do ano que vem, que levam a freqüentes e desnecessárias trombadas.
O Plano A está em curso e o plano B, na gaveta. O presidente Lula viaja para o Japão no sábado com aparente serenidade. A alguns, Lula deu a entender que por ele, se o Legislativo quiser mesmo fazer a CPI, lamentará apenas a perda de energia política que poderia ser empregada no cumprimento da agenda que negociou com os partidos esta semana, inclusive com os da oposição. Pois mar de lama em seu governo, ninguém encontrará. E isso, nem mesmo a oposição chega a insinuar. Mas está também disposta a agarrar com unhas e dentes esta chance de golpear o governo ao máximo, conseguindo talvez inviabilizar a reeleição de Lula. Teria até reserva de assinaturas.