Título: Disputa de PT e PTB afetou licitações nos Correios
Autor: Francisco Leali/Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 20/05/2005, O País, p. 5

Diretoria ligada a petebistas cancelou licitação preparada por grupo petista para a compra de computadores

BRASÍLIA. Uma briga entre grupos indicados pelo PTB e pelo PT na cúpula dos Correios interferiu em licitações da empresa estatal. No fim do último mês de março, a diretoria de Administração, até então chefiada pelo ex-deputado do PTB Antônio Osório, cancelou a licitação para a compra de 43 conjuntos de computadores, que estava sendo vencida pela Novadata. A empresa tem entre seus sócios Mauro Dutra, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A licitação foi preparada pela diretoria de Tecnologia, comandada por Eduardo Medeiros, indicado para o cargo pelo PT.

Diretoria cancelou compra de 13 mil computadores

O departamento de Contratação (Decam), uma das instâncias da diretoria de Administração, pediu o cancelamento da licitação depois de apontar distorções na proposta formulada pela diretoria de Tecnologia. "O Decam solicitou a revogação do referido pregão em virtude de que o objeto licitado não atende aos interesses da ECT (Empresas de Correios e Telégrafos) - descrição equivocada e inadequada, restringindo o mercado e encarecendo o objeto adquirido", diz um relatório interno sobre o processo de compra.

Com a decisão, a Novadata acabou perdendo o negócio. O cancelamento da concorrência foi determinado pela diretoria indicada pelo PTB.

Outra concorrência para compra de computadores opôs diretorias indicadas por PT e PTB. O negócio é citado numa conversa que o ex-diretor do departamento de Contratação Maurício Marinho teve com dois lobistas no mês passado. Marinho insinuou que a Novadata perdeu terreno nos Correios porque fez um "acerto" com integrantes da diretoria de Tecnologia e não com a diretoria de Administração, de Antônio Osório. O ex-deputado era chefe de Marinho, afastado na semana passada após ser flagrado em vídeo recebendo propina de empresários. Marinho cita a licitação para a compra de 13.910 computadores em agosto do ano passado.

- Na última licitação que eles pensaram que iam ganhar, deu problema. Não tinha nada acertado aqui. Acertaram na Tecnologia. Era um processo licitatório de R$50, R$60 milhões (...). O que que eles fizeram? Acertaram com o cara lá de baixo.... Como perceberam que só estavam eles, acharam que podiam ganhar mais. (...) Ligaram para o cara da tecnologia. Só que esqueceram de combinar com o lado de cá - diz Marinho no diálogo com os lobistas.

Trechos da conversa estão na fita distribuída esta semana pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson. Jefferson foi apontado por Marinho como sendo um de seus padrinhos políticos. Nesse pregão, a Novadata tinha sido a vencedora em quatro lotes. Como não quis reduzir o preço, a comissão de licitação cancelou a concorrência. Quando o processo foi reaberto, outras empresas acabaram vencendo a disputa em três lotes. A Novadata ficou com apenas um item da concorrência.

O diretor de Tecnologia, Eduardo Medeiros, negou que tenha recebido qualquer oferta para favorecer a Novadata:

- Como é que alguém faz um acerto de preços e depois vai disputar um pregão com mais três ou quatro empresas?

O diretor nega ter sido indicado pelo PT e disse que chegou à diretoria de Tecnologia pelas mãos do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. O coordenador de Integração de Projetos da diretoria de Tecnologia, Edilberto Petry, disse que não houve irregularidade nas licitações.

O QUE DISSE MAURÍCIO MARINHHO

Na conversa com dois supostos empresários, Maurício Marinho diz que a Novadata se acertou com a diretoria de Tecnologia e pensava que ganharia uma licitação nos Correios. Afirma também que a empresa não "combinou" com a diretoria do PTB e por isso ficou só com um dos itens licitados:

MAURÍCIO MARINHO: No fornecimento de material o mais forte são eles (Novadata)... Na última licitação que eles pensaram que iam ganhar, deu problema. Não tinha nada acertado aqui. Acertaram na Tecnologia. Era um processo licitatório de R$50,6 milhões. Aí eles chegaram lá embaixo (Comissão de Licitação) e só tinha Novadata, Positivo e uma outra. O que eles fizeram? Acertaram com o cara lá de baixo... Verificaram que estava tudo na mão deles, acharam que o preço (cotado) do equipamento estava muito baixo... Eles tinham acertado com a área da tecnologia. Com aquele segundo da área de tecnologia.(...) Como perceberam que só estavam eles, acharam que podiam ganhar mais. Perfeito, perfeito. Ligaram para o cara da tecnologia. Só que esqueceram de combinar com o lado de cá. Acharam que estavam dominando todo o processo e aí aparece a ATP, a Omega (inaudível)... Aí eu peguei (falando para as outras empresas): "Vocês se preparem vai ter o processo assim, assado". O que a área de tecnologia fez: aumentou o preço de referência, mandaram para cá com a chancela do diretor. No dia da abertura, vem Novadata, a Positivo e uma outra que aparece para eles completarem as três propostas. Só que tinham mais três, as que vieram depois. Dos quatro itens a Novadata só levou um e perdeu os outros três para as outras três. Do preço inicial do computador que nós tínhamos colocado R$3.700 a estação, eles pediram para aumentar sabe para quanto? R$6 mil e porrada, um absurdo...Sabe por quanto saiu o equipamento? R$2.700, não foi nem R$2.800. Os R$3.700 que eles rejeitaram, perderam quase mil reais por estação. Perderam um dinheiro enorme porque queriam ganhar...

Legenda da foto: MAURÍCIO MARINHO: "Esqueceram de combinar com o lado de cá"