Título: EVO MORALES DEFENDE ALIANÇA COM O BRASIL
Autor: Luiza Damé e Ramona Ordonez
Fonte: O Globo, 19/05/2005, O Mundo, p. 28

Líder cocaleiro insiste nos 50% de royalties e saúda permanência da Petrobras no país

BUENOS AIRES. Em meio ao debate sobre a polêmica Lei de Hidrocarbonetos promulgada anteontem pelo Congresso boliviano, o deputado do Movimento ao Socialismo (MAS) e líder dos cocaleiros, Evo Morales, considerou positiva a permanência da Petrobras na Bolívia e minimizou a decisão da empresa de reduzir seus investimentos no país. Em entrevista ao GLOBO, por telefone, de La Paz, o líder cocaleiro defendeu a aliança entre os governos do Brasil e da Bolívia, mas reiterou a decisão de seu partido de promover uma emenda constitucional que eleve de 18% para 50% os royalties pagos pelas companhias petrolíferas com operações no país.

- O aumento dos tributos vinculados à exploração do gás é fundamental para nosso país. Precisamos de recursos para financiar programas de combate à pobreza - afirmou Morales, principal opositor do presidente Carlos Mesa. - Nosso interesse é um bom relacionamento com o Brasil.

MAS redobra ofensiva para exigir mudança de lei

Perguntado sobre a decisão adotada pela Petrobras, Morales buscou evitar atritos com o governo Lula.

- Saudamos a decisão da Petrobras de permanecer na Bolívia. A questão dos investimentos é relativa, depende de negociações que ainda deverão acontecer. O que nós queremos são contratos equilibrados, não queremos impor nada a ninguém.

O partido de Morales redobrou ontem sua ofensiva no Congresso para exigir a modificação da Lei de Hidrocarbonetos. A lei promulgada, que substituiu a norma vigente desde 1996, prevê o pagamento de 18% de royalties e 32% de impostos não-dedutíveis. O partido de Morales pretende aprovar emenda que eleve os royalties de 18% para 50%. A proposta do MAS concede, ainda, faculdade ao Estado boliviano de fixar o preço do gás no mercado interno.

- Não queremos expulsar empresas e sim fazer justiça. Não é possível que, com os recursos energéticos que possuímos, tenhamos royalties de apenas 18% - disse o deputado Santos Ramírez, também do MAS, um dos autores do projeto de emenda que o partido tentará aprovar no Congresso.

Novos protestos na capital e no interior

Ontem, o país voltou a ser cenário de protestos em repúdio ao plano de reativação econômica e social anunciado na véspera pelo governo. Movimentos sociais bloquearam estradas de acesso às cidades de La Paz, Oruro, Cochabamba e Potosi, para exigir a nacionalização dos recursos energéticos. Na capital, manifestantes foram reprimidos pela polícia. No fim do dia, o governo conseguiu negociar trégua com as cooperativas de mineiros, que prometeram suspender os bloqueios a partir de hoje. No entanto, o futuro político do país e, sobretudo, do presidente, continua incerto.

- A credibilidade do presidente está em baixa e neste momento existem muitas demandas sociais sobre a mesa. Além da nacionalização dos recursos energéticos, alguns setores exigem a renovação do Congresso, a renúncia do presidente e um forte reajuste salarial - explicou a diretora do Instituto de Ciência Política da Universidade Maior de San Andrés, Ximena Costa.