Título: MERCADANTE ADMITE ERRO QUE AGRAVOU A CRISE
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 20/05/2005, O País, p. 9

Governistas quiseram dar susto na oposição ao derrotar Moraes para o CNJ; votação de indicado para o Cade é suspensa

BRASÍLIA. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), fez ontem um mea-culpa e reconheceu, em reunião com petistas, que errou na votação que rejeitou, na véspera, o nome de Alexandre de Moraes, ex-secretário estadual de Justiça de São Paulo e ligado ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e ao PFL, para compor o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Mercadante reconheceu que o erro contribuiu para acirrar os ânimos na Casa com a derrubada de uma indicação feita pela Câmara, que, por sua vez, já havia derrotado o candidato do governo para o cargo, Sérgio Renault.

Embora tenha repetido que a oposição teve parcela de culpa, Mercadante admitiu que o clima criado na Casa não contribui em nada para o governo, num momento em que o Planalto vive um momento político delicado.

- Não dá para não responsabilizar também os que patrocinavam a indicação de Moraes pela derrota. Quando as votações são de interesse nosso, nós cuidamos do quórum. Ganhar e perder votação acontece todo dia. Por sinal, temos perdido muitas - disse Mercadante.

A intenção de Mercadante, com a ajuda de Ney Suassuna (PMDB-PB), era dar um susto na oposição. Os dois não contavam, porém, com um quórum tão baixo, o que acabou levando à rejeição de Moraes e deflagrando uma troca de insultos com os líderes de PSDB e PFL. Mercadante disse que os pefelistas Romeu Tuma (SP) e Maria do Carmo (SE) e os tucanos Sérgio Guerra (PE) e Leonel Pavan (SC) deixaram o plenário.

- Se os quatro tivessem participado da votação, o resultado seria outro - disse.

Mesmo assim, Mercadante está disposto a buscar uma saída para o impasse. A oposição entrou em obstrução, anunciando que só permitirá a votação das demais indicações para o CNJ quando o governo encontrar uma solução.

- O plenário está de ressaca. Quiseram nos dar um susto e acabaram comprando uma briga. O governo criou o problema, ele que resolva - avisou o líder do PFL, Agripino Maia (RN).

Temendo retaliações, o governo mandou suspender a votação da indicação de Denise Abreu para o Cade, na Comissão de Assuntos Econômicos. Como naufragou a sugestão de repetir a votação, Mercadante e os líderes da base analisam outras alternativas. Uma idéia seria deixar a indicação para o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Mas Jobim ontem deixou claro que prefere que a Câmara e o Senado se entendam. Ele afirmou que o CNJ tomará posse em 6 de junho, completo ou não.