Título: MORTES NA MATERNIDADE
Autor: Fernanda Pontes
Fonte: O Globo, 20/05/2005, Rio, p. 13

Infecção aumenta número de óbitos de prematuros na UTI do Instituto Fernando Magalhães

O número de mortes de bebês prematuros na UTI neonatal do Instituto da Mulher Fernando Magalhães, em São Cristóvão, aumentou nos últimos 49 dias, chegando a 23, de acordo com o deputado Paulo Pinheiro (PT), da Comissão de Saúde da Alerj. Na unidade, que trabalha com partos de alto risco, foram registrados somente este mês, segundo ele, nove casos de morte por infecção bacteriana. Os números relativos ao mês de abril ainda não foram divulgados. Na quarta-feira, três recém-nascidos morreram com infecção generalizada, disse Pinheiro.

O aumento do número de mortes de prematuros começou em abril, quando dez bebês morreram na unidade. De acordo com o deputado, que esteve ontem com a direção do hospital, em maio a quantidade de óbitos (13) já ultrapassou a média mensal do instituto, que registra de seis a oito mortes na UTI.

O deputado acredita que a superlotação da UTI neonatal tenha provocado o surto infeccioso no instituto. Ele afirma que a unidade tem 20 leitos, mas vem recebendo 25 bebês.

Prefeitura não confirma números

A Secretaria municipal de Saúde não confirmou o número de óbitos porque o levantamento de registros dos últimos meses não tinha sido concluído até o fim da tarde ontem. Em nota oficial, a prefeitura informou que o instituto é referência no atendimento de gestantes em estado grave e que a unidade realiza 450 partos mensais. Além disso, o hospital trabalha com a capacidade total e não recusa gestantes. No documento, a prefeitura disse ainda que "desconsidera explorações políticas, oportunismos e declarações de parlamentares e comissões".

Ontem, mães que perderam seus bebês prematuros na UTI do hospital estavam inconsoláveis. Janaína da Costa Silva, de 28 anos, reclamou das condições de higiene da unidade. Ela disse que desde que teve seu filho João Vitor, no dia 5 de abril, vinha presenciando a morte diária de recém-nascidos no hospital. Na quarta-feira, Janaína soube que seu bebê também morrera:

- Ele estava na UTI e foi transferido para a Unidade Intermediária porque tinha melhorado. Três dias depois, ele voltou para UTI, onde morreu. Eu cheguei a perguntar se havia risco para meu filho, mas os médicos disseram que os bebês contaminados estavam isolados - contou Janaína, enquanto esperava o carro que levaria o corpo de seu filho ao Cemitério do Caju.

A tristeza pela morte do filho também estava presente no rosto de Marilene Custódio, de 25 anos. A filha Júlia morreu com apenas 20 dias, na quarta-feira, vítima de uma infecção bacteriana. No mesmo dia também morreu o filho de Luiz Carlos de Souza, de 24 anos. O recém-nascido, que tinha 18 dias, teve uma infecção generalizada:

- Moramos em Paraty, mas não há incubadoras suficientes na região e, por isso, tivemos que vir para o Rio. Hoje estamos levando o corpo dele para a nossa cidade.

Com o filho recém-nascido nos braços, Janaína do Carmo Lopez, de 21 anos, que deu à luz gêmeos, também contou que perdeu um dos bebês na maternidade, vítima de infecção. A morte aconteceu no dia 22 de abril. Desde então, ela torce para o outro filho crescer saudável:

- O médico dizia que os dois podiam estar contaminados, mas um conseguiu sobreviver.

Segundo parentes de pacientes internadas no instituto, o hospital está recusando gestantes. Na quarta-feira, duas mulheres teriam entrado em trabalho de parto na porta da unidade, mas não foram atendidas.

Na porta do instituto, um cartaz informa às gestantes sobre a superlotação da unidade. "Estamos restringindo temporariamente as internações devido à indisponibilidade de leitos para recém-nascidos de risco".

O vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores, Doutor Carlos Eduardo (PP), disse que já notificou a prefeitura por causa da infecção na UTI neonatal:

- Há 15 dias recebemos uma ligação de uma mãe que perdeu filhos gêmeos com infecção bacteriana. Descobri que a unidade não tinha sequer um infectologista. Uma UTI não pode funcionar assim.

Ontem, segundo ele, 23 prematuros foram transferidos da UTI para a Unidade Intermediária do hospital:

- Eles chamaram um infectologista e a UTI agora está recebendo bebês que acabaram de nascer.

Ao saber das novas mortes na UTI, o vereador disse que vai notificar novamente a Secretaria municipal de Saúde, o Juizado de Menores e o Ministério Público.

Segundo Paulo Pinheiro, a maternidade vem apresentando outros problemas acarretados pela superlotação, como falta de roupas, de medicamentos e sondas. Ele disse que, desde o fechamento da Maternidade Leila Diniz, em Jacarepaguá, outras unidades da cidade tiveram aumento do número de pacientes. A Comissão de Saúde da Alerj voltará ao instituto hoje para vistoriar as instalações.