Título: Sem maldição
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Fonte: O Globo, 21/05/2005, Editorial, p. 6
A grande mobilidade dos capitais que giram pelos sistemas financeiros no mundo exige que as autoridades monetárias recorram a instrumentos mais dinâmicos para controle da moeda; e a taxa de juros, até agora, tem sido a forma mais eficaz para se atingir os objetivos traçados.
O Brasil não foge a essa regra, e desde o lançamento do real a determinação da taxa básica de juros pelo Banco Central se tornou um componente chave da política econômica. No início do Plano Real, os juros elevados funcionaram como um dique para evitar a volta da inflação, e naquele momento o câmbio quase fixo também ajudava as autoridades monetárias nessa tarefa.
A economia brasileira teve de se adaptar à realidade mundial, e a adoção do câmbio flutuante se tornou necessária, o que, por sua vez, fez com que o país tivesse de aceitar uma certa dose de inflação para acomodar os ajustes em andamento.
Nesse contexto, a política monetária passou a ser balizada por um regime de metas anuais de inflação, com trajetória forçosamente declinante. Em face dos desequilíbrios estruturais remanescentes da economia brasileira, a taxa de juros capaz de assegurar o cumprimento das metas, hoje, no Brasil, é muito alta se comparada a padrões internacionais.
Mas a economia brasileira não está condenada por uma maldição a conviver perpetuamente com inflação e juros altos. Os ganhos de eficiência que vêm se acumulando no sistema produtivo podem abrir espaço para que, a médio prazo, o Brasil venha a ter juros compatíveis com os de economias com mesmo grau de desenvolvimento.