Título: Uma família na informalidade
Autor: Flávia Oliveira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 20/05/2005, Economia, p. 23

Em Pernambuco, mãe e cinco filhos são empreendedores para garantir sustento

RECIFE. Josefa Cordeiro da Silva passou boa parte de sua vida na carroceria de um caminhão, percorrendo o agreste pernambucano. Mesmo com o marido reclamando de ela viajar com homens, comprava panelas, roupas e louças em Caruaru - a 130 quilômetros da capital - e vendia nas feiras das cidades de Belo Jardim, Arcoverde, Lajedo, Jupi, São Caetano. Hoje, aos 76 anos, é uma pequena e informal empreendedora: com os retalhos do ateliê de costura de uma filha, Josefa faz almofadas, colchas e bolsinhas. Chega a fazer 40 peças por mês, que custam de R$30 (bolsa) até R$200 (colcha). Cinco dos seus seis filhos estão na informalidade.

A filha mais velha, Palmira, faz sabonetes decorados, rosas para lapelas e bijuterias, vendidos no salão de beleza - ainda informal - das irmãs Altamira e Almerinda. As duas já trabalharam no mercado formal, mas só uma vez tiveram carteira assinada. A clientela do salão está crescendo, mas elas ainda não formalizaram a empresa:

- A gente até já tentou, mas a burocracia é tão grande que ainda não conseguimos sair da informalidade. Mas felizmente o negócio está dando certo e vem crescendo - conta Almerinda.

Outra irmã, Auristela, também já passou pelo mercado formal, como costureira de uma confecção. Ao sair da empresa, nem procurou outro trabalho, pois sabia que em casa ganharia mais. Hoje ela tem um ateliê em casa, com máquinas industriais, que garante o sustento da família. Trabalham lá o marido, a nora e outros parentes. Só este mês, Téo, como é conhecida, confeccionou 40 uniformes para um colégio e 210 almofadas para uma fábrica de móveis.

- Não enjeito serviço - diz Téo, que, além dos retalhos, ajuda a mãe colocando forros e acabamentos nas peças.

Dos filhos homens, Altamir, que trabalha em um colégio, tem uma marcenaria na garagem de casa. Já Antônio começou na informalidade, mas hoje tem uma pequena mercearia já registrada. Josefa teve outro filho, que morreu, que também atuava na informalidade.

Legenda da foto: JOSEFA DA SILVA (à direita), de 76 anos, e quatro de seus seis filhos: ateliê de costura, marcenaria e salão de cabeleireiro informais