Título: Motoristas de van e taxistas superam camelôs
Autor: Flávia Oliveira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 20/05/2005, Economia, p. 23

Trabalhadores no setor de transporte na economia informal já somam 605 mil. Sebrae teme excesso de concorrência

Os camelôs ainda são numerosos, mas a pesquisa do IBGE constatou que, na economia informal das cidades brasileiras, já é maior o número de trabalhadores no setor de transporte que atuam em veículos, ou seja, os taxistas, motoristas de vans, motoboys e afins. Eles somam 605.110, enquanto os que trabalham no comércio em via pública (grupo que concentra os camelôs) são 592.356.

É gente como Henrique Luiz Neves, que trabalhava na área administrativa de uma firma de engenharia e foi demitido numa reestruturação da empresa. Aos 50 anos, sem conseguir oportunidades no mercado formal, Henrique foi trabalhar com transporte alternativo. Começou com seu próprio carro e, hoje, é motorista auxiliar de uma cooperativa.

- Já consegui ganhar bem mais com van. Hoje está difícil. Os custos são altos, tem muito carro na rua e há pouca fiscalização para combater a pirataria - queixa-se Henrique, que trabalha numa linha interestadual e ganha cerca de R$1.500 por mês.

Coordenador do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe-UFRJ, Paulo Cézar Martins Ribeiro diz que o tamanho da informalidade no setor é resultado da facilidade de entrada combinada à baixa repressão. Enquanto os camelôs precisam de investimento inicial e fluxo de caixa para comprar mercadorias, os motoristas de vans necessitam apenas do capital inicial para comprar o veículo.

- A partir daí, é só pôr gasolina, enquanto o camelô precisa montar e desmontar barracas, fugir da fiscalização, buscar mercadorias. O setor de transporte é menos arriscado, por isso vemos vans por toda parte e o trânsito fica um caos.

O excesso de concorrência está entre as principais queixas dos trabalhadores informais, de todas as áreas: 44,51% apontaram esta como a maior dificuldade enfrentada nos últimos 12 meses. Outros 48,65% queixam-se da falta de clientes. Luiz Carlos Barbosa, diretor-técnico do Sebrae, conclui que o mercado informal pode estar próximo da saturação:

- A concorrência está acirrada e, apesar da queda nos lucros, as empresas aumentaram investimentos, o que mostra que tentam sobreviver de alguma forma.

Também da Coppe, o professor Ronaldo Balassiano afirma que cabe aos governos desenvolverem políticas públicas que adaptem o excesso de oferta de transporte de baixa capacidade à demanda. O modelo atual permite a circulação de um grande número de veículos em áreas relativamente bem servidas de transporte de massa. Para competir com os ônibus, diz Balassiano, os donos de vans reduzem demais suas tarifas, o que inviabiliza a manutenção adequada da frota e põe em risco os passageiros.

Legenda da foto: HENRIQUE: motorista auxiliar