Título: REMESSAS DE LUCROS TIVERAM AUMENTO DE 50%
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 20/05/2005, Economia, p. 24

Números do BC são de janeiro a abril. Total chegou a US$3,6 bi com valorização do real e expansão econômica

BRASÍLIA. A forte valorização do real frente ao dólar e o recente crescimento econômico estão provocando aumento das remessas de lucros e dividendos do Brasil para o exterior. Elas subiram de US$2,44 bilhões de janeiro a abril de 2004 para US$3,666 bilhões neste ano, com aumento de 50%. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, as remessas se dividem em ganhos de aplicadores externos na bolsa de valores e em lucros de empresas estrangeiras.

O BC estimava saída média mensal de US$650 milhões em 2005, mas os envios estão em US$926 milhões. Em maio, já são US$813 milhões. Em abril, chegaram a US$1,284 bilhão.

- Imaginávamos que (o cenário de até então) fosse uma antecipação de remessas nos primeiros meses do ano. Mas se percebe que é o resultado de ganhos com o nível de atividade melhor e o câmbio favorável. Com os mesmos reais, as empresas estão comprando mais dólares - explicou Lopes.

As despesas com remessas de lucros, porém, ainda não prejudicam as contas externas, pois as exportações continuam com altas recordes. O forte superávit comercial em abril possibilitou um saldo de US$757 milhões nas transações correntes (comércio exterior, pagamento de juros, viagens e remessas de lucros). Foi um resultado positivo num mês que concentra tradicionalmente pagamento de juros da dívida externa.

Em abril de 2004, houve déficit corrente de US$764 milhões. A virada deste ano apoiou-se no superávit comercial, que passou de US$1,959 bilhão em abril de 2004 para US$3,876 bilhões em 2005.

- A despeito da despesa com juros, que atingiu US$1,58 bilhão em abril, as transações correntes foram superavitárias e tiveram o primeiro saldo positivo em abril desde 1995 - disse o economista do BC.

Um movimento importante relativo ao impacto do câmbio está no aumento de gastos com viagens ao exterior. Em abril, essa conta teve déficit de US$34 milhões, frente a US$10 milhões positivos no mesmo mês de 2005. Até agora, em maio, o déficit está em US$70 milhões. No ano, porém, as viagens ainda mantêm saldo de US$107 milhões - abaixo dos US$302 milhões de janeiro a abril de 2004. O BC prevê cifra perto de zero para este ano.

As contas externas também registram números bem acima das médias mensais na parte financeira. Os investimentos estrangeiros diretos somaram em abril US$3,038 bilhões, com a recompra de ações da AmBev pelos belgas da Interbrew. A operação resultou no ingresso de US$1,384 bilhão no mês passado e ajudou a inflar o total de investimentos diretos em 2005. Eles atingiram US$6,527 bilhões nos quatro primeiros meses deste ano, mais que o dobro dos US$3,1 bilhões de igual período de 2004. Mas foi um resultado atípico - tanto que para maio a previsão é de US$700 milhões.

- A operação da AmBev envolveu US$737 milhões em dinheiro e US$647 milhões em ações da Interbrew. O investimento direto foi positivo num mês com concentração de vencimentos de títulos do setor público no exterior, como bradies e bônus globais novos. Também houve taxa de rolagem de 50% da dívida - disse Lopes.

As transações correntes acumulam em 12 meses um superávit de US$14,234 bilhões - 2,21% do Produto Interno Bruto (PIB).

inclui quadro: o saldo das contas do Brasil