Título: BRASIL E ARGENTINA DEBATEM DIFERENÇAS
Autor: Eliane Oliveira e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 20/05/2005, Economia, p. 25

Chanceler argentino, na primeira visita oficial, vai se encontrar com Amorim

BRASÍLIA. Hoje é dia de Brasil e Argentina tentarem aparar as arestas, após meses de trocas de farpas devido a diferenças comerciais e diplomáticas. O chanceler argentino, Rafael Bielsa, estará em Brasília com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em sua primeira visita oficial ao Brasil.

- Vamos conversar sobre todos os temas, bilaterais, regionais e multilaterais - afirmou Amorim.

O ministro deu a entender que estarão na mesa todas as rusgas entre os vizinhos, como o fato de o presidente Néstor Kirchner não se conformar com a posição mais agressiva do Brasil no cenário internacional, buscando liderança em fóruns como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Do lado comercial, estará o contra-ataque dos empresários brasileiros, que, após enfrentarem pedido de cotas para a entrada na Argentina de eletroeletrônicos e calçados, decidiram pedir barreiras para a importação de vinho argentino. Também estão na mira brasileira trigo e arroz.

Perguntado sobre a possibilidade de o encontro com Bielsa estar relacionado à saída antecipada de Kirchner da Cúpula América do Sul-Países Árabes, o chanceler brasileiro resumiu:

- Não vou conversar sobre mitos, e sim sobre realidades.

No front da União Européia (UE), o quadro de estagnação das negociações para um acordo de livre comércio com o Mercosul levou o chefe da Delegação Parlamentar da UE, deputado Massimo D'Alema, e um grupo de congressistas europeus a proporem ao governo brasileiro uma forma de destravar as conversas. Para D'Alema, uma das saídas seria uma reunião de ministros, fora do encontro do Grupo do Rio e da UE, no próximo dia 26, em Luxemburgo.

A falta de avanços também preocupa o Brasil. Amorim disse esta semana que a marcha lenta é culpa da maioria dos técnicos europeus e que a oferta da UE é ruim e limitada.

- Essa negociação é extremamente importante. Pela primeira vez, a UE negocia com outro bloco, o Mercosul. E ganha ainda mais projeção pelo fato de o Brasil apresentar um papel crescente não apenas na América Latina, mas no cenário mundial - disse D'Alema.

Entre os pontos em comum entre Brasil e UE, D'Alema destacou a defesa do multilateralismo e o fortalecimento dos organismos internacionais.