Título: Rumos da CPI já preocupam empresários
Autor:
Fonte: O Globo, 21/05/2005, O País, p. 9

Tema foi assunto de reunião de Lula com conselheiros do CDES

BRASÍLIA. Diante da perspectiva de instalação da CPI para apurar denúncias de corrupção nos Correios cresce no Congresso e no governo a preocupação com os possíveis efeitos que a crise política poderá produzir na economia. Este foi o principal assunto de uma conversa que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve anteontem à noite com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. E foi assunto do jantar do presidente Lula com empresários, também anteontem, na Granja do Torto.

Durante o jantar, oferecido aos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES),na Granja do Torto, os empresários manifestaram a Lula a preocupação de que a crise acabe contaminando a economia. Na visão de alguns conselheiros do CDES, essa sensação de perda de iniciativa e de controle por parte do governo pode acabar influenciando os agentes econômicos.

Lula teria concordado que o risco existe, mas minimizou a crise, ponderando que ela parece artificial, pois está localizada em Brasília e no Congresso.

¿ Não existe crise no país. O clima em Brasília e no Congresso não traduz o clima do país ¿ teria afirmado o presidente, segundo o relato dos empresários.

Renan reuniu-se com Palocci para discutir o tema

Lula convidou dez ministros e o vice-presidente José Alencar para o jantar do Torto com 88 empresários e representantes da sociedade civil que integram o CDES. Segundo relato de um dos conselheiros, o presidente está incomodado com a radicalização da oposição e deixou claro que vai mudar e reforçar a coordenação política do governo.

Em seu encontro com Palocci, Renan deixou claro a preocupação com a economia:

¿ Todo mundo quer ajudar. O brasileiro se projeta na imagem do presidente Lula. O empresariado quer remover os gargalos para que o país continue crescendo, mas teme que a atual crise política arruíne o ambiente econômico ¿ disse Renan, que sugeriu a Palocci a retirada dos programas sociais da regra de contingenciamento do orçamento:

¿ Já havia conversado isso com o presidente Lula. É fundamental tirar os gastos sociais da regra de contingenciamento do orçamento. Deixar de cumprir metas da reforma agrária para fazer superávit primário em maio é algo pouco explicável, que só aumenta a tensão no cenário político.

Até a oposição tem manifestado receio em relação aos desdobramentos da CPI no cenário econômico. Por isso mesmo, o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), adianta que não é objetivo do partido deixar que as investigações descambem para o lado emocional.