Título: `É PRECISO DAR CONDIÇÕES PARA A MULHER DENUNCIAR¿
Autor: Letícia Helena
Fonte: O Globo, 22/05/2005, O País, p. 17

Símbolo do movimento contra a violência, bioquímica ficou paraplégica após ser baleada pelo marido

Foram sete anos de tortura no casamento e outros 19 de martírio na Justiça: a bioquímica cearense Maria da Penha Maia Fernandes, de 60 anos, precisou da ajuda da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para ver seu marido e pai de suas três filhas, o professor universitário Marco Antonio Herredia Viveiros, atrás das grades. Em 1983, culminando um histórico de violência doméstica, Marco Antonio atirou em Maria da Penha pelas costas quando ela dormia.

Após tiro, marido tentaria matá-la mais uma vez

A bala deixou a bioquímica paraplégica. Já de cadeira de rodas, ela foi vítima de outro atentado: o marido levou-a até o chuveiro e tentou matá-la com um choque. Maria da Penha escapou e denunciou Marco Antonio. O processo levou quase duas décadas e dois julgamentos. Somente após o caso ser denunciado à OEA, o professor foi preso. Ficou menos de dois anos na cadeia e, hoje, cumpre a pena de dez anos e seis meses em regime semi-aberto.

Maria da Penha escreveu o livro ¿Sobrevivi, posso contar¿, virou símbolo da luta contra a violência doméstica e, este ano, foi homenageada pelo Senado com a medalha Bertha Lutz. Hoje, acredita que o maior entrave no combate às agressões dentro de casa é a lentidão e, por vezes, a inoperância da Justiça:

¿ É preciso dar condições à mulher de denunciar o agressor, garantindo que ele será punido e acabando com a impunidade. Do jeito que a lei está, é lícito fazer qualquer coisa ¿ diz a bioquímica.