Título: O confronto
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 23/05/2005, Primeiro Caderno, p. 2

A oposição está exultante com a instalação da CPI dos Correios. Está convencida que fará dela um instrumento de desgaste do governo e da imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo jogou a toalha e se prepara agora para tentar controlar a comissão. O ministro José Dirceu deu seu grito de guerra ao acusar a oposição de golpista e de querer desestabilizar o governo.

A sucessão presidencial inspira a todos, principalmente a oposição, que ainda não tem um candidato competitivo para 2006, mas vislumbra na CPI um instrumento para impedir a reeleição do presidente Lula. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), não esconde que o objetivo da CPI é enfraquecer o governo. O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), rejeita a crítica de golpista, dizendo que os tucanos querem que Lula chegue ao fim de seu mandato.

¿ Queremos tirar o Lula, mas nas urnas. Foi o José Dirceu quem disse, no passado, que ia nos derrotar nas urnas e nas ruas. Foi o PT que pediu que Fernando Henrique renunciasse e convocasse novas eleições. O golpismo faz parte do DNA deles, não do nosso ¿ diz Alberto Goldman.

O clima de radicalização que está se criando, e tende a se intensificar com a proximidade das eleições, pode, de fato, levar o país a um impasse institucional. O principal herdeiro da disputa acirrada que se trava agora será o presidente eleito no ano que vem. Ele terá a dura tarefa de renovar, num Congresso onde seu partido não terá maioria, a validade da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), que financia os gastos com a saúde, e a Desvinculação de Receitas Orçamentárias (DRU), que dá liberdade para o governo usar 20% das receitas. Lula, se reeleito, contará novamente com a boa vontade da oposição? E o PT, se perder, voltará a fazer aquela oposição selvagem?

Acuada pelo impacto do escândalo dos Correios, a base do governo entrou num poço sem fundo. Uma centena de aliados assinou o requerimento para criar a CPI. Muitos petistas vêem na CPI uma oportunidade de depurar o governo de aliados indesejáveis e que são tolerados em nome da governabilidade. Foi por isso que o Diretório Nacional do PT não aprovou resolução pela retirada das assinaturas de petistas. Mas na oposição não existe esse tipo de inocência. Entre eles não há ninguém interessado no presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ). Para a oposição, o que importa é caçar o PT e atingir o coração do governo Lula.

Enterrada

Há duas semanas uma plenária da CUT aprovou resolução contra a proposta de reforma sindical do Ministério do Trabalho. Agora, o diretório nacional do PT excluiu a reforma da agenda legislativa que proporá ao governo e aos partidos no Congresso. As entidades empresariais também perderam o interesse na reforma diante da possibilidade de aprovação do direito de organização por local de trabalho.