Título: Lula pede rigor em apuração
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 23/05/2005, O País, p. 3
Numa tentativa de esvaziar a iniciativa da oposição de criar uma comissão parlamentar de inquérito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ontem rigor na investigação da denúncia de corrupção nos Correios, que está sendo conduzida pela Polícia Federal. Antes de embarcar para a Ásia, Lula se reuniu por 30 minutos com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que estava de férias e foi chamado às pressas em Brasília. Lula disse que a apuração deve ser ampla, independentemente do partido político dos envolvidos.
Depois da reunião com Lula, Bastos informou que as investigações policiais serão ampliadas. O ministro determinou ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, a abertura de inquérito para apurar denúncias de irregularidades envolvendo o PTB e o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Segundo reportagem da revista ¿Veja¿, publicada na edição desta semana, o PTB cobraria uma comissão mensal de R$400 mil do IRB.
¿ O presidente recomendou que é preciso fazer uma apuração rigorosa, ampla, que nem proteja nem persiga ninguém, uma apuração impessoal. Eu disse a ele que é isso que a Polícia Federal está tentando fazer nesse caso, de uma maneira forte, de uma maneira planejada, de modo a que se possa chegar a um resultado o mais depressa possível ¿ afirmou Bastos.
Na semana passada, em reação à revelação de gravações em que o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração dos Correios Maurício Marinho admite a existência de um esquema de corrupção na empresa e envolve o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson (RJ), a oposição conseguiu assinaturas de deputados e senadores para instalar uma CPI no Congresso. O governo está pressionando para que os aliados retirem as assinaturas, evitando a criação da CPI.
Bastos foi convocado por Lula anteontem para estar na Base Aérea antes das 8h, horário previsto do embarque para a Ásia. O presidente pediu um relato dos rumos do inquérito conduzido pela PF, que corre em segredo de justiça.
¿ O presidente reiterou isto: vamos fazer uma investigação sem olhar para os partidos, sem olhar para os ministérios, sem olhar para o que quer que seja. É uma investigação impessoal, é uma investigação que visa apurar com critério, com firmeza os delitos ¿ disse o ministro.
Segundo Bastos, o presidente ficou satisfeito com o andamento da apuração. O ministro afirmou que o inquérito encontra-se numa fase ¿aguda e delicada¿ de planejamento e, por isso, muitos detalhes não poderiam ser revelados.
¿ O presidente ficou satisfeito e reiterou a recomendação de que a gente fizesse um inquérito que investigue de maneira profunda e ampla a denúncia a respeito dos Correios ¿ disse.
Governo quer mostrar que não é conivente
Ao sair da reunião com o ministro, encaminhando-se para o avião, Lula estava sorridente e demonstrando bom humor. Brincou com os jornalistas, perguntando-lhes se queriam ir para o Japão. Disse ainda que estava tranqüilo. Na sexta-feira, Lula já havia respondido aos jornalistas que não estava preocupado com a CPI. Nos bastidores, líderes governistas e ministros estão trabalhando para evitar a instalação da comissão.
Além de pressionar pela retirada de assinaturas, o governo tem procurado mostrar que não é conivente com a corrupção. Ontem o ministro da Justiça destacou o trabalho de combate à corrupção feito pela Polícia Federal e pela Controladoria Geral da União, algumas vezes em pareceria com o Ministério Público Federal.
¿ Eu acho que a criação de CPI é uma questão que envolve a soberania do Congresso, é um instrumento do Congresso, que sabe se deve abrir ou não deve abrir, se esse instrumento vai atingir seus fins, se não vai atingir seus fins ou vai ser desviado de seus fins. O que quero dizer é que o Executivo está cumprindo estritamente o seu dever de investigar ¿ disse Bastos.
O ministro confirmou que a PF está investigando eventuais ligações da denúncia de corrupção nos Correios com o esquema de desvio de dinheiro do Ministério da Saúde, desvendado pela Operação Vampiro. Essa foi uma das 80 operações da PF em dois anos e meio de governo, sendo 45 para apurar corrupção. Segundo Bastos, 120 policiais federais e rodoviários federais foram demitidos e centenas de servidores públicos estão sendo processados. Os dados foram publicados anteontem pelo GLOBO.
Bastos disse que o governo faz combate sistemático à corrupção. Para ele, a única restrição que pode ser feita à PF é em relação aos nomes das operações. Na semana passada, o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, reclamou do nome Gabiru (rato), dado à operação que desvendou esquema de desvio de merenda escolar.
¿ Isso (as ações da PF) talvez explique um pouco a percepção de que a corrupção está aumentando ¿ disse o ministro.