Título: Cerveja e futebol com gostinho brasileiro ferem orgulho argentino
Autor: Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 23/05/2005, Economia, p. 15

BUENOS AIRES e BRASÍLIA. A Argentina recebeu, nos últimos anos, mais de US$10 bilhões em investimentos brasileiros, que com isso criaram pelo menos 10 mil postos de trabalho no país. Os dados são do Grupo Brasil, fundado em 1994 e hoje integrado por 190 empresas brasileiras com operações na Argentina. A presença brasileira já faz parte do cotidiano dos argentinos, e está por trás do patrocínio de populares times de futebol e da marca de cerveja mais consumida no país.

Em 2002, a Petrobras comprou 58,6% da Pecom Energia, maior companhia petrolífera independente da América Latina, numa operação de US$1,027 bilhão. A empresa hoje detém 15% do mercado argentino de combustíveis e tem quase 700 postos de gasolina em todas as províncias do país.

Mas o desembarque da Petrobras na Argentina feriu o orgulho dos argentinos. Desde 2003, a empresa patrocina o Racing Club, um dos times mais tradicionais do país. O patrocínio, iniciado justamente no ano em que o Racing comemorava seu centenário, foi recebido com desconfiança pelos torcedores.

Itaú, Odebrecht, Sadia e Natura estão na Argentina

Outra investida verde-e-amarela nos gramados argentinos veio por meio da AmBev. Em 2002, a empresa pagou US$346,38 milhões por 36,09% do capital votante e 37,50% do capital total da Quinsa, controladora da cervejaria Quilmes, a maior da Argentina, tradicional patrocinadora do Boca Juniors, o time mais popular do país. A Quilmes detém 69% do mercado argentino de cervejas. Antes da operação, a AmBev controlava somente 13% do mercado com a marca Brahma.

A Quilmes também tem forte presença no Chile, com as marcas Cristal, Paceña, Andes, Norte, Heineken (licenciada), Pilsen, Becker, Baltica e Baviera. Além de Petrobras e AmBev, Itaú, Bradesco, Odebrecht, Sadia, TAM e Natura são outras firmas brasileiras na Argentina.

No Peru, a dobradinha cerveja e futebol também leva a marca de grandes empresas brasileiras. Antes mesmo de chegar ao mercado peruano, a AmBev já é conhecida no país graças ao patrocínio de um dos principais times de futebol do Peru, o Alianza Lima.

¿ Há oito anos, quando ia ao Peru, o Brasil era lembrado pelo futebol e o carnaval. Hoje, está presente em todos os lugares, da gasolina que consumimos ao carro que dirigimos ¿ conta o peruano Edward Antônio Santacruz, que mora no Brasil e visita seu país anualmente.

Mister Sheik leva quibes a Paraguai e Venezuela

A AmBev hoje está presente em praticamente todos os países da América do Sul. A empresa já investiu, só no Peru e na Guatemala, US$130 milhões nos últimos dois anos, segundo dados da Unctad.

O patrocínio como ferramenta para consolidar marcas brasileiras é usado não apenas no futebol. A Petrobras, maior companhia de petróleo do continente e que já investiu nos países vizinhos mais de US$3,8 bilhões, também apóia outros esportes e programações culturais, como teatro e música.

Além de gigantes como Petrobras e AmBev, outras empresas brasileiras já dão passos rumo a internacionalização para países vizinhos. A firma de alimentação Mister Sheik investiu US$175 milhões na Argentina nos últimos dois anos. Os quibes da marca começaram a ser servidos em Buenos Aires a partir de 2003 e, mais recentemente no Uruguai, no Paraguai e na Venezuela.