Título: `O assunto que interessa à maioria alemã hoje é o desemprego¿
Autor: Graça Magalhães
Fonte: O Globo, 23/05/2005, O Mundo, p. 20

Para o cientista político Jürgen Falter, a reação de Gerhard Schröder à derrota na Renânia do Norte-Vestfália é um ato suicida. O momento é tão crucial que o governo não terá chance de vencer, independente do candidato da oposição ser Edmund Stoiber ou Angela Merkel.

A tática de Schröder vai ajudá-lo a ficar no governo mais um mandato?

JÜRGEN FALTER: O SPD quer antecipar as eleições pois, sem o último voto que ainda tinha no Conselho Federal, não pode governar. Isso num momento grave para o país, com alto nível de desemprego e déficit no orçamento. Mas isso não deixa de parecer um ato suicida. Nem os mais otimistas crêem que haja chances agora.

Em 2002, Schröder foi reeleito, embora semanas antes nenhuma pesquisa indicasse sua vitória. Ele não consegue virar o jogo no último momento?

FALTER: Ele teve ajudas inesperadas: a primeira foi a enchente no leste alemão. O debate sobre o aquecimento global favoreceu os Verdes e a permanência de Schröder. E houve o debate sobre a guerra do Iraque, em que Schröder foi contra. Mas nem o mais otimista estrategista acha possível a ajuda de uma nova enchente ou do debate sobre uma nova guerra. O assunto que interessa à maioria alemã hoje é o desemprego, e a falta de perspectiva para o problema.

Há uma divisão no SPD?

FALTER: Sim. A reforma lançada pelo governo para reduzir os custos do desemprego foi vista pelos eleitores social-democratas como traição. Ao contrário dos outros partidos, o SPD tem o problema de conciliar os interesses do SPD moderno, ou da Terceira Via, e os da tradicional classe trabalhadora e sindicatos, base eleitoral importante. Isto fez com que o SPD perdesse na Renânia do Norte-Vestfália.

A oposição pode dividir-se entre as candidaturas de Angela Merkel e Stoiber?

FALTER: Há uma divisão, pois a CSU da Baviera prefere Stoiber, que tem o apoio de líderes da CDU, mas ela deverá desistir e dar a chance a uma mulher, do leste, que terá mais votos dos habitantes da região, a mais afetada pelo desemprego. Acho que será Merkel. Ela está construindo uma imagem parecida com a de Margaret Thatcher, conservadora e bem-sucedida.