Título: Derrota faz Schröder antecipar eleições gerais
Autor: Graça Magalhães
Fonte: O Globo, 23/05/2005, O Mundo, p. 20

BERLIM. Depois de uma derrota histórica, a maior nos últimos 50 anos, do Partido Social Democrata (SPD) na eleição regional da Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha, e cujo PIB é maior do que países como o Brasil, o chanceler federal Gerhard Schröder anunciou ontem a antecipação das eleições nacionais para o próximo outono (europeu), setembro ou outubro. A escalada da crise política resultou num beco sem saída para o governo.

¿ Para continuar as reformas, vejo como necessário o apoio da maioria dos alemães. Por isso considero o meu dever e obrigação influir para que o presidente (Horst Köhler) use a Constituição para antecipar as eleições ¿ disse Schröder ontem à noite, com um semblante abalado, depois de um dia de estresse, visto pelos analistas como o início do fim da sua era.

Segundo o político social democrata Egon Bahr, Schröder deverá provavelmente renunciar nos próximos dias, para tornar possível a dissolução do parlamento federal e a convocação oficial de novas eleições antes do fim do mandato, previsto para setembro do próximo ano.

A União Democrata Cristã (CDU), tendo à frente Jürgen Rüttgers, que foi ministro do gabinete do ex-chanceler Helmut Kohl, conseguiu ontem na Renânia 45% dos votos, contra apenas 37% do SPD. Os dois partidos menores, Verdes e Liberais, tiveram perdas, mas o partido liberal (FDP) participará do novo governo do estado apesar de seus apenas 6,3%. Já os Verdes, que tiveram 6%, perderam ontem a participação do último governo estadual que ainda tinham no país, 20 anos depois de Joschka Fischer, atual ministro das Relações Exteriores da Alemanha, ser indicado ministro do meio ambiente de Hessen.

A Renânia do Norte-Vestfália, até os anos 70 a mais rica região alemã, foi a que mais sofreu com a globalização e com as reformas do governo federal. Com 18 milhões de habitantes, o estado tem 1 milhão de desempregados, a maior cota da antiga Alemanha Ocidental, por ter, em muitas cidades, como Dortmund ou Gersenkirchen, uma economia dependente de setores econômicos decadentes no país, caso da indústria do carvão mineral.

Angela Merkel, presidente da CDU, chamou a derrota do último governo regional de coalizão SPD-Verdes de ¿uma vitória para o país¿. Enquanto os analistas vêem como contados os dias de Schröder como chanceler, e o SPD inicia um novo debate sobre as desvantagens do capitalismo, na ala conservadora a pergunta mais importante deverá ser solucionada hoje, segunda-feira: quem será o candidato dos conservadores ao governo nas eleições federais?

De acordo com o cientista político Jürgen Falter, Angela Merkel, de 52 anos, será a candidata e com grandes chances de ganhar, tendo em vista a baixa popularidade do governo. Angela, da antiga Alemanha Oriental, que conseguiu em apenas 15 anos enfrentar o domínio masculino da CDU, disputa a candidatura com Edmund Stoiber, presidente da CSU, que foi o candidato dos conservadores em 2002.