Título: ORGIAS DEPOIS DA AULA
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 22/05/2005, O Mundo, p. 41

Sexo grupal entre adolescentes britânicos alerta para comportamento de jovens na Europa

As estatísticas que classificam o Reino Unido como país da Europa Ocidental com maior número de casos de gravidez na adolescência já eram sinal de algo errado no comportamento sexual da juventude britânica. No fim do mês passado, porém, durante um congresso do Royal Nursing College (RNC, principal instituição de enfermagem do país), profissionais de assistência escolar revelaram perturbadores indícios de uma promiscuidade precoce: o sexo grupal entre adolescentes. Segundo eles, em algumas escolas de Londres grupos de estudantes com até menos de 13 anos se reúnem, após as aulas, para orgias em casas onde pais passam a maior parte do dia no trabalho. A prática é chamada daisy-chaining (cadeia de margaridas).

Também foram apresentados indícios de práticas de sexo grupal envolvendo uma menina e vários meninos (por consenso ou coerção) conhecidas como gang bang ¿ o que autoridades do RNC atribuem ao número crescente de casos do gênero envolvendo jogadores de futebol, noticiados na imprensa sensacionalista. O que mais preocupa autoridades é a constatação de que a turma nem sempre usa contraceptivos, situação que prevalece também no plano geral do comportamento sexual britânico.

Embora a epidemia da Aids seja considerada sob controle no Reino Unido, relatório publicado ano passado pela Agência de Proteção da Saúde mostrou, por exemplo, um aumento de nada menos que 190% nos casos nacionais de infecções por clamídia, em especial em adolescentes do sexo feminino. ONGs como a Brook estimam que um em cada dez adolescentes britânicos tem alguma doença venérea. O número de casos de gravidez é estimado em 90 mil por ano, oito mil em menores de 16 anos.

Em alguns distritos da Inglaterra e do País de Gales, a média de casos de gravidez chega a ser mais de duas vezes maior que o total, de 46, 9 por mil habitantes. Em Lambeth, distrito de Londres, atinge 10% das adolescentes menores de 18 anos.

Suécia: maior índice de jovens grávidas

Na verdade, a preocupação com a promiscuidade juvenil se estende a todo o continente. A mais recente pesquisa da divisão européia da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o comportamento sexual da juventude européia (com dados de 2001 e 2002) constatou que pelo menos 30% das britânicas de 15 anos não haviam usado proteção em sua relação sexual mais recente, percentual que chegou a 57% na Suécia, o país com maior índice. Ainda de acordo com o estudo, os adolescentes europeus descobrem o sexo cedo, com a idade da primeira relação variando de 13,6 anos na Lituânia a 14,9 anos na Grécia.

¿ Esses grupos ainda não são significativos em termos estatísticos para os programas de combate à Aids, mas é extremamente preocupante essa tendência de redução na idade do primeiro contato sexual, bem como a da exposição às doenças sexualmente transmissíveis ¿ afirma o dinamarquês Jeff Lazarus, diretor do Programa Europeu de HIV-Aids da OMS.

Entre os britânicos, as estatísticas são de que uma entre quatro adolescentes têm relações sexuais antes dos 16 anos. O que mais tem espantado os especialistas é a falta de informação. O governo trabalhista de Tony Blair está na berlinda, já que a educação sexual é compulsória apenas nas escolas de ensino secundário, ainda assim sem um padrão rígido. Tampouco se exigem profissionais especialmente treinados para essa tarefa.

¿ Há escolas em que a disciplina fica a cargo de quem estiver mais perto da diretora na hora de escolha. Já vi professores de educação física sem qualquer experiência prévia encarregados de um assunto que não envolve apenas reprodução e patologias, mas questões de auto-estima e civilidade. A falta de informação é grande e já vimos adolescentes dizendo que a pílula anticoncepcional os protege da Aids ¿ diz Kathy French, do departamento de Ética e Saúde do RNC.