Título: UM ESTILO INCOMPATÍVEL COM A FORMALIDADE
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 22/05/2005, O Mundo, p. 42

Impontual e imprevisível, argentino já causou constrangimento em casa e no exterior

BUENOS AIRES. Desde o primeiro dia de governo, Néstor Kirchner demonstrou ter um estilo polêmico de governar. Já na cerimônia de posse, deixou claro que não tem o menor apego a formalidades: brincou com o cetro presidencial, interrompeu o locutor oficial, beijou e abraçou todos os que estavam por onde ele passou. Antes de participar de um dos principais atos da posse, na Casa Rosada, decidiu ir ao encontro de seguidores que estavam em frente à Casa Rosada, e terminou com um machucado na testa.

Outros aspectos de sua personalidade provocam fortes debates dentro e fora do país, por exemplo, sua impontualidade. O presidente já deixou os reis da Espanha esperando mais de duas horas, durante o Congresso da Língua Espanhola, ano passado na Argentina. Em dezembro de 2003, numa cúpula de presidentes do Mercosul, chegou 45 minutos atrasado a um café-da-manhã com o presidente Lula, sendo que o encontro foi realizado no hotel onde o presidente argentino estava hospedado. Kirchner não participou de reuniões do Grupo do Rio, nem do encontro presidencial que consagrou a criação da Comunidade Sul-americana de Nações, em 2004.

O relacionamento entre o presidente e a imprensa também é um aspecto questionado de sua personalidade. Desde que chegou ao poder, Kirchner não recebeu a imprensa estrangeira. Em dois anos de governo, o presidente não deu entrevistas coletivas e, em reiteradas oportunidades, atacou duramente a imprensa local. Este ano, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) enviou missão a Buenos Aires, que manifestou sua preocupação pelo que considerou pressões do governo sobre a imprensa e, sobretudo, pela maneira como o Executivo utiliza a publicidade estatal para exercer controle sobre a mídia.(J.F)