Título: PEQUIM ELEVA TARIFA NA VENDA DE TÊXTIL
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 21/05/2005, Economia, p. 29

Governo anuncia medida após EUA e UE ameaçarem impor sobretaxas

PEQUIM. O governo da China anunciou ontem que vai aumentar as tarifas do imposto de exportação cobrado sobre a venda ao exterior de 74 produtos têxteis e roupas. Essas irão de 1 a 4 yuans por unidade, contra taxa anterior de 0,2 a 0,3 yuan, segundo o site do governo (www.mof.gov.cn). A nova tributação entra em vigor em 1º de junho.

As autoridades chinesas haviam dito anteriormente que nada fariam para reduzir o ritmo das suas exportações de tecidos, que subiram enormemente após o fim do sistema de cotas para têxteis determinado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), em janeiro deste ano.

A decisão, anunciada pela Comissão de Tarifas Alfandegárias do Conselho de Estado, o órgão executor do governo chinês, ocorre após as ameaças americanas e européias de criar sobretaxas para as importações de tecidos e roupas chineses, feitas há menos de uma semana.

Greenspan: valorização do yuan não reduzirá déficit

Os EUA decidiram impor restrições a sete produtos têxteis da China e pressionam o país a deixar flutuar sua moeda, o yuan, considerada artificialmente desvalorizada. Os EUA avisaram que a China poderia ser classificada pelos americanos como parceiro comercial desleal, devido a sua política cambial. O yuan desvalorizado torna os produtos chineses mais competitivos.

Mas o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan, alertou ontem que a simples valorização do yuan não vai diminuir o déficit da balança comercial dos EUA com a China. No Clube Econômico de Nova York, Greenspan disse que os fornecedores vão simplesmente procurar produtos baratos em outros países, como Malásia ou Tailândia:

- O efeito será uma alta nos preços internos.

O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, foi cauteloso e disse que pedirá mais detalhes ao negociador chinês de têxteis, Gao Hucheng, com quem vai se reunir semana que vem:

- Considero bem-vindas as medidas, mas terei de examiná-las atentamente para saber se serão suficientes.

Pequim alterou exportações pela segunda vez no ano

O aumento do imposto de exportação sobre têxteis anunciado ontem é o segundo desde o fim das cotas estabelecido pela OMC. A primeira, em janeiro, instituiu sobretaxas de 0,2 a 0,3 yuan por unidade exportada.

Essa tarifa foi considerada muito pequena para evitar o salto nas exportações chinesas de têxteis. Para alguns analistas, a nova taxa continua pequena frente às enormes vantagens da China: fábricas modernas e mão-de-obra barata.

Nenhum representante do governo chinês comentou a medida, explicada como "uma tentativa de prevenir um aumento súbito das vendas ao exterior", o que vem ocorrendo, na prática, apesar dos esforços de Pequim.

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(*) Com agências internacionais

Legenda da foto: PETER MANDELSON, comissário de Comércio da UE: "Ainda temos de ver se as tarifas serão suficientes"