Título: Partidos de centro alertam contra neopopulismo
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Fonte: O Globo, 21/05/2005, O Mundo, p. 34
Tendência representada por Hugo Chávez poderia se espalhar pela América Latina, advertem políticos da IDC
O populismo apresenta o risco de se expandir pela América Latina, diante de alianças de líderes de tendência semelhante, numa ameaça à democracia, aos direitos humanos e à estabilidade do continente, segundo representantes de quase 30 países reunidos ontem e anteontem no Rio de Janeiro para o encontro da Internacional Democrática de Centro (IDC), que tem no PFL o representante brasileiro. Para eles, a principal ameaça desse neopopulismo é representada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
A eleição de salvadores, em vez de governantes
Segundo o texto aprovado na reunião, o neopopulismo se caracteriza por usar a via democrática para chegar ao poder. E, uma vez nele, tentaria perpetuar-se. Fatores como partidos fracos e a falta de uma cultura democrática criariam condições favorecendo o surgimento do populismo, citado como a maior pandemia política a ameaçar a democracia no mundo.
- Os povos da América saudaram com muito otimismo a chegada da democracia. Mas há uma sensação de que ela não foi capaz de resolver os problemas como prometera. Cai-se, então, na tentação do populismo, que não resolve os problemas - disse ao GLOBO Eduardo Fernández, presidente do Partido Social Cristão venezuelano, o Copei, de oposição.
Nem mesmo o Brasil estaria a salvo dessa suposta onda.
- Olhamos com atenção para este grande país e com preocupação. O movimento populista na América Latina corre o risco de chegar à política (do Brasil). Se eu pudesse sintetizar com um slogan a nossa iniciativa de hoje, direi que o slogan do PFL é: Faça, não fale. Demagogia zero, porque só a demagogia zero pode ter sucesso ao chegar à fome zero - disse o deputado Pier Casini, presidente da Câmara dos Deputados da Itália
Lourdes Flores, do Partido Popular Cristão peruano, vê com preocupação especial o relacionamento entre o presidente venezuelano e o líder cocaleiro Evo Morales, da Bolívia.
- Há especulações se na crise equatoriana houve ou não a presença do chavismo. Eu não diria que em meu país, o Peru, exista um risco iminente, mas existe sempre um risco latente - disse Flores. - A América Latina não elege governantes, e sim salvadores.
No caso de Cuba, o problema não é o populismo, mas o autoritarismo. A resolução "Pela liberdade e contra a tirania em Cuba", proposta pelo Partido Popular espanhol, de José María Aznar, manifesta o apoio aos opositores do regime cubano em sua luta pela democracia e critica a política da União Européia em relação ao país. A IDC aprovou ainda uma resolução sobre o terrorismo.
Chávez passa de alvo para o ataque
Um dos principais alvos dos dois dias de reunião, Chávez partiu para o ataque e aumentou a polêmica ao responder, em Caracas, às duras críticas feitas por Aznar na quinta-feira. O ex-chefe do governo espanhol disse que o presidente venezuelano era um exemplo "do modelo populista que perverte o funcionamento democrático".
O troco veio numa resposta ainda mais dura: Chávez comparou Aznar a Hitler e o chamou de fascista e imbecil. Chávez disse que certa vez perguntou o que Aznar pensava do Haiti e dos países pobres da África.
- Aquele homem vomitou o que tinha dentro de si de fascista. Ele disse: "Esqueça aqueles que perderam o trem da História e estão condenados a desaparecer" - afirmou Chávez. - Hitler, a raça perfeita. Esse é o pensamento desse cavaleiro (...) um imbecil, um fascista.
Legenda da foto: REUNIÃO DA IDC: representantes alertam sobre crescimento do populismo, violação dos direitos humanos em Cuba e a ameaça do terrorismo