Título: FOTO DE SADDAM DE CUECA ATINGE CASA BRANCA
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Fonte: O Globo, 21/05/2005, O Mundo, p. 35

Bush diz que imagem em jornais não deverá aumentar antiamericanismo no Iraque, mas abre investigação

LONDRES. A Casa Branca se viu ontem envolvida em mais um escândalo relacionado a constrangimentos causados a presos iraquianos, desta vez envolvendo o mais importante deles: Saddam Hussein. O jornal britânico "The Sun" e o americano "The New York Post" estamparam uma foto do ex-ditador de cueca, além de outras em momentos de intimidade. Irritados, advogados de Saddam prometeram processar os responsáveis, enquanto o governo americano condenava as imagens e anunciava uma "completa e agressiva" investigação, admitindo não ter idéia de quem tirou a fotos.

Perguntado se as fotos intensificariam o antiamericanismo no Iraque e no Oriente Médio, o presidente George W. Bush negou:

- Não acho que um foto inspire assassinos. Acho que eles são inspirados por uma ideologia que é tão cruel e arcaica que é difícil para muitos no mundo ocidental compreenderem o que pensam.

Mas Trent Duffy, porta-voz da Casa Branca, admitiu que as fotos poderão ter impacto semelhante às que mostraram no ano passado presos sendo torturados e humilhados na prisão de Abu Ghraib, ou à informação divulgada semana passada na "Newsweek" de que interrogadores americanos jogaram cópias do Alcorão na privada diante de presos muçulmanos na base em Guantánamo, Cuba - o que motivou violentos protestos em países muçulmanos.

- Isto poderá ter um impacto grave como as revelações de abusos contra prisioneiros - disse Duffy.

Na primeira página do "Sun", Saddam foi visto de cueca branca, segurando as calças. Outras fotos o mostraram - vestido - sentado numa cadeira lavando roupas; caminhando num pátio; e dormindo em sua cama, na prisão onde é mantido sob forte segurança, em local não divulgado. Segundo o "Sun", sua cela mede 3,6 metros por 2,7 metros e é vigiada dia e noite por circuito interno de TV.

Desde que o ex-ditador foi encontrado por soldados americanos em abril de 2003, escondido num buraco no chão de uma casa, as únicas imagens dele divulgadas eram registradas numa breve audiência judicial.

O "Sun" disse que militares americanos lhe entregaram as fotos "na esperança de dar um golpe certeiro na resistência no Iraque". "Saddam não é super-homem ou Deus, apenas um pobre e velho homem", disse uma fonte militar, segundo o jornal. "É importante que as pessoas o vejam assim para destruir o mito. Talvez isto mate um pouco a paixão dos fanáticos que ainda o seguem."

Presos torturados até a morte no Afeganistão

Em comunicado, as forças americanas afirmaram que as fotos devem ter sido tiradas há um ano. Disseram ainda que as imagens violam os direitos de Saddam como prisioneiro e possivelmente a Convenção de Genebra.

Em Amã, Ziad Khasawneh, advogado de Saddam, disse:

- Isto é uma violação de todos os acordos internacionais e da dignidade humana. Portanto, precisamos processar as pessoas responsáveis e os fornecedores dessas fotos.

O "New York Times" divulgou ontem um relatório do Exército americano segundo o qual dois presos afegãos foram torturados até a morte ao serem interrogados por americanos no Afeganistão. Já a Cruz Vermelha disse que já discutira com autoridades americanas casos de profanação do Alcorão ocorridos em 2002 e 2003 em Guantánamo.

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